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Grandes Textos - O Perfeito Precisa Existir, Parte 1

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O homem sempre trabalhou com conceitos absolutos: luz e trevas, frio e calor, vida e morte, certo e errado, perfeito e imperfeito. Onde há homem, há alguma forma de crença numa realidade perfeita, mesmo que as sociedades mais primitivas não consigam expressar de modo adequado o que compreendem como "perfeição". No mais íntimo do ser humano existe, quer compreenda quer não, um conceito de "perfeito". Os filósofos gregos viam a perfeição nos astros, que alegavam ser perfeitamente esféricos, com superfícies lisas e destinados a cursar caminhos perfeitamente circulares - para eles, a ideia do "círculo" emanava "perfeição". Muitos desses filósofos também acreditavam que esse universo em formato perfeito era eterno, imutável, suficiente em si mesmo. Algumas concepções mais primitivas, e igualmente erradas, direcionavam os absolutos para divindades humanoides, quer híbridas, quer não: cada desejo ou sensação humana tinha sua fonte numa suposta divindade que literalmente encarnava-o, sendo o absoluto do desejo ou da sensação específica (Afrodite para o sexo, Ares para a guerra, Dionísio para a música, a gastronomia e o prazer). Posteriormente desenvolveu-se, sobretudo entre os gnósticos, a ideia de que o corpo material é podre, desprovido de qualquer benefício, enquanto o corpo espiritual é sempre pleno e perfeito. Seja como for, os absolutos sempre fizeram parte do ser humano, e isso é algo que nos diferencia dos animais. Independentemente da via, toda a forma de compreensão absoluta, coerente ou não, revela algo sobre a natureza divina.

O ideia de que existem absolutos no universo, especialmente o absoluto de benigno, que é o "Perfeito", parece não ter uma origem no mundo natural. A ideia dos absolutos é fruto único da mente racional e observadora, espantada com a assombrosa vastidão e precisão do mundo material em todas as escalas e cenários: tudo, do olho que observa, do cérebro que traduz, ao objeto observado, do grão de areia ao grande pinheiro, é indescritivelmente maravilhoso. A ideia dos absolutos é fruto da mente racional capaz de planejar uma sociedade e seu futuro: aquilo que a experiência mostra ser importante para a sobrevivência é considerado "bom" e aquilo que se evidencia malévolo é tido como "mau", tudo concebido pela compreensão do mundo, o apelo instintivo e genético, pela consciência moral (que Deus incutiu no homem para facilitar o processo de aprendizado em prol da sobrevivência) e pela experiência. Diante da morte e do perigo, imediatamente se estabelece o absoluto, havendo uma clara distinção entre o saudável e o ruim. Com base nisso, tendo o apelo psicológico e genético pela eternidade e satisfação, o homem passa a desejar o Bem Pleno e a repudiar aquilo que prejudica. Esse Bem Pleno sempre foi procurado através da excelência humana ("só posso atingir o Pleno se eu mesmo for pleno" - pensamento real, embora incoerente), através de uma arquitetura colossal e profundamente trabalhada em templos, através de montanhas de sacrifícios, através da excelência física e militar, através da excelência intelectual ou, ainda, através do avanço tecnológico. Até hoje o homem vive procurando o Pleno, com ênfase nos desenvolvimentos tecnológicos (quer afastar a morte, a doença e tudo o que é "mau"). Desenvolvimento tecnológico, intelectual, arquitetônico e físico é mais do que algo instintivo e filho da natureza, está muito além do necessário para a sobrevivência - tudo isso se deve basicamente à uma insatisfação psicológica, genética e espiritual, que transpassa as barreiras do imediatismo bestial e leva o homem para além das fronteiras da barbárie: o conceito de absolutos, culminando no Bem Supremo e na necessidade de se atingir esse Bem, afastando o Mal, é a engrenagem mais poderosa que movimenta o homem na história.

O homem só procura o que sabe que perdeu e só lembra do sabor daquilo que já experimentou. A percepção dos absolutos, que movimenta o homem desde seus tempos mais primevos, parece indicar que já estivemos no Paraíso que tanto procuramos, que já experimentamos a Plenitude que tanto almejamos reencontrar. Se no mundo que o homem pode tocar não existe nenhum traço de perfeição, então de onde veio o nossa sede pelo Perfeito? As mais antigas histórias, as mais primitivas cosmogonias, falam de homens que, nos primeiros dias, estavam mais perto das divindades, experimentando ininterruptamente a plenitude delas, isso antes da necessidades dos templos e sacrifícios. Esse desejo é uma memória universal. A insatisfação com a ideia de "somente sobreviver", procurando o Pleno, indica uma real experiência do homem com o Perfeito. O homem já experimentou o "fruto da eternidade" e ainda se lembra do seu sabor, seguindo sempre desacostumado e apavorado com a morte. A ideia do Pleno, seja conforme pensavam alguns filósofos gregos sobre a perfeição imanente no universo, seja conforme pensam muitos em nossos dias sobre a possibilidade de atingirmos um ideal de humanidade, apenas refletem aspectos de uma realidade inquestionável e extremamente importante para o nosso desenvolvimento. Essas não são verdades em si mesmas, mas apontam para aquilo que é verdadeiro, que existe em nós para além de qualquer fonte natural, que brota da eternidade, fazendo-nos desejá-la; que brota da perfeição, fazendo-nos almejá-la. Qualquer um que sabe distinguir aquilo que é "certo e errado", que teme a morte, que crê, mesmo que utopicamente, na possibilidade de plenitude para o homem, qualquer um que luta sinceramente por um "mundo melhor", qualquer um que deposita a esperança nalguma divindade ou nos avanços tecnológicos para burlar aquilo que, em nosso mundo e natureza, é maléfico, respira, das raízes daquilo que define o ser humano, das memórias mais ancestrais, o conceito de absolutos e, portanto, de Plenitude, de Perfeição. Está fixado, querendo ou não, na verdade que sustenta nosso universo, que atribui beleza à existência, que dá sentido para a vida - e todos aqueles que fogem dessa norma frequentemente apresentam quadros de deficiência psicológica. O próprio conceito de que existe "deficiência" aponta para os absolutos.

O homem é um ser projetado para ver a beleza (e produzi-la), em oposição ao que é feio; a ordem, em oposição ao que é desordenado; a vida em oposição ao que é morto. E todo o homem, querendo ou não, fixa os pés naquilo que considera rocha sólida para sustentar sua vida: algo que encarne o Pleno Bem - seja o mundo natural, uma figura divina ou uma esperança tecnológica. Não conseguimos viver sem o Pleno Bem. E o Pleno Bem está além da comida para sobreviver, da roupa para vestir e do parceiro para ter filhos. O Pleno Bem movimenta a humanidade, porque possibilita o sacrifício: parece válido sofrer voluntaria e racionalmente (burlando o instinto imediato) em prol de uma causa Plena - é como sofrer numa escalada severa, sabendo que no topo da montanha haverá um gordo bosque, com benefícios suficientemente grandes para valer o risco e o sacrifício. Esse tipo de iniciativa não existe, para além do instinto, num mundo natural. É nesse tipo de iniciativa que reside o heroísmo - é impossível imaginar que alguns dos vários inventores que morreram experimentando suas obras o tenham feito apenas por renome, sem paixão.

O homem quer mais. Ele quer fama, recursos, ele quer, coletiva ou individualmente, encontrar o Pleno, o Paraíso. Num certo sentido, essa busca apaixonada e incontrolável, embora racional e voluntária, pelo Pleno, pelo que aparentemente já foi experimentado, mas hoje está perdido, parece ser fruto direto de uma Existência Plena, do Perfeito. Se existe o Perfeito, tendo como prova não a própria Perfeição, que é incompatível com nosso mundo universalmente reconhecido como imperfeito, mas o nosso próprio desejo se encontrá-lo (a bússola só aponta para o Pólo Norte porque ele existe), então existe Deus. O Perfeito é Deus. E como Deus é Perfeito e está fora de tudo o que existe além dEle, a Sua revelação para o homem não pode ser absoluta enquanto o imperfeito imperar: simplesmente não há espaço, tempo ou qualquer outra condição em nossa realidade material para suportar uma revelação total do Perfeito. Esse é o primeiro ponto. A segunda dificuldade está no fato de que o próprio homem, que já não é mais perfeito, é incapaz de interpretar Deus corretamente, plenamente, atribuindo divindade ao que não é divino, nutrindo esperança de plenitude naquilo que nunca poderá ser pleno. Esse desencontro gera toda a espécie de distorção da verdade na qual todos direta ou indiretamente estão fixados, que todos direta ou indiretamente respiram.

Seja o que for, seja como for, não importa o que se pense ou deixe de pensar, a Perfeição é Deus e, se facilitar, podemos chamar Deus de "O Perfeito". Existindo perfeição, existe O Perfeito, seja num lugar, seja numa pessoa, seja numa natureza. Esse Perfeito, logo, é a fonte de todo o desejo humano histórico, genético, psicológico e espiritual pela plenitude, em qualquer sentido que seja. É dEle que brotam todos os desejos de plenitude, que estão acima da natureza comum, e é para Ele que se direcionam todos eles. A única coisa que muda é o objeto valorizado: o mundo, a tecnologia, a divindade espiritual... havendo concordância universal na possibilidade de retorno ao ideal, o Certo, ao Paraíso, à Plenitude, à imortalidade, ao que já experimentamos, ao que desejamos, ao que ardentemente almejamos e pelo que estamos sempre enlutados, relembrando amargamente a sua perda. 

A Verdade só pode ser uma e todos estão vivendo-a, mesmo sem perceber, pois tudo o que existe está dentro dela, e não existe ninguém que a compreenda em sua plenitude. O que diferencia os homens dos animais é a consciência de que tal Verdade existe e o que diferencia os homens entre si é a interpretação dessa Verdade, a perspectiva pela qual cada um a observa. Não existe homem psicologicamente saudável que esteja fora disso. Sem isso não existe beleza, não existe paixão, não existe sentido, não existe humanidade! Lutar contra isso é atentar contra toda a razão e bom senso, contra a sobrevivência, é dinamitar tudo o que está sendo construído nas estruturas históricas, genéticas, espirituais e psicológicas desde que o homem brotou da terra. Toda a poesia e música, todo o romance, toda a pincelada no quadro ou o toque na lira, todo o mármore escupido, o cabelo tingido, a unha pintada, a pele tatuada, tudo o que de nós está fora do que chamamos de "mundo natural", é resultado disso. E se a obra do homem, como artista, é fruto do Perfeito, então o próprio homem é fruto de um artista, que é o próprio Perfeito, o fruto de nosso senso de perfeição. Ou poderia vir um apreciador de arte de algo que não fosse a própria Arte? Um apreciador de beleza de algo que não fosse a própria Beleza? O detentor de um assombrosamente maravilhoso organismo, de algo que não seja um Grande Engenheiro? De onde viriam as complexidades e as apreciações, se não existisse o definidor do que deve ser valorizado e o objeto primeiro de apreço? Se valorizamos o belo e isso está além do mundo natural, então somos fruto da Beleza, que quer ser percebida e valorizada por nós, mesmo que através de Sua revelação naquilo que brota da terra e desponta no céu. Tudo o que de benéfico somos e sentimos, assim como a própria natureza, é fruto de um absoluto respectivo e esse absoluto se encontra no Perfeito.

Nesse sentido, e isso fica claro, até mesmo a luta contra a existência desse Perfeito possui raízes e só existe porque existe esse mesmo Perfeito. Se existe alguém fazendo algo para, aos seus olhos, tornar "o mundo melhor", se existe alguém demonstrando paixão nalguma militância, transpassando os limites do instinto natural e fazendo uso de recursos dotados de beleza e complexidade, se existe alguém militando em prol de um avanço humano pra a plenitude, então existe o Perfeito e, logo, é através daquilo que fazem para destruí-Lo, e da forma como o fazem, que provam que o Perfeito, Absoluto do Benigno, existe. Tudo e todos, sempre, começando pelo simples fato da existência, provam que Ele existe. No artigo "A Caverna", é dito que qualquer coisa que exista para além do Vazio Absoluto é prova mais do que suficiente de que o Criador existe, aqui afirmo que qualquer compreensão intelectual humana é evidência de uma Mente Superior e que qualquer senso de absoluto é evidência de que existe O Perfeito. Somos "imagem e semelhança de Deus" também porque pensamos! O ato de pensar é exercício divino, que não encontra raízes na natureza e que se faz presente em nós como broto do Eterno; o ato de pensar, por si só, é uma evidência de que existe o Pensamento Eterno. Através do pensamento Deus se fez encontrável, desejável, reconhecível, identificável. Todo o homem, todo o ser pensante, pelo simples ato de pensar, já recebeu de Deus todos os subsídios necessários para encontrá-Lo e aceitá-Lo. Ninguém é inculpável. O Deus Perfeito, o Pleno, revelou-se a todos através da natureza, dos absolutos morais e do simples ato de raciocinar.

O Deus Perfeito revelou-se ao homem em matéria natural e elemento mental, semeou Sua vontade em histórias por todas as culturas, selecionou um povo específico para se apresentar mais profundamente e, por fim, fez-se carne e, como ser perfeito, habitou entre os homens imperfeitos, fazendo evidente a realidade da Perfeição que o homem sempre procurou sem nunca ter encontrado. Tal perfeição, outrora inatingível, pois o homem entendia que precisa ser pleno para alcançar a plenitude (uma incoerência), fez-se tangível através de Jesus, do próprio Deus Perfeito se esvaziando e vindo ao imperfeito, criando a ponte entre a perfeição e a imperfeição. Em Cristo o homem encontrou uma evidência por observação e experimento, para além dos desejos da alma, de que o Perfeito existe e É. De Deus brotaram todas as iniciativas humanas pela busca do Pleno Bem e para Cristo, o Deus Filho, todas elas convergiram, bastando o reconhecimento humano dessa realidade. É por isso que a Boa Nova é fácil de entender e aceitar para qualquer povo, de qualquer cultura, de qualquer período histórico: responde aos anseios mais primitivos, mais profundos, mais ardentes do homem, anseios esses que as excelências humanas jamais conseguiram suprir adequadamente. O homem de todas as terras reconhece que o Perfeito existe e que está numa condição de imperfeição. O homem de todas as terras é capaz de encontrar na Boa Nova os motivos dessa imperfeição e a via, construída por Deus, para reencontrar o seu verdadeiro eu, o solo propício para o germinar da semente da eternidade, que luta contra a morte e procura a Plenitude, que não suporta as condições da existência em nosso mundo no seu atual estado. Em Cristo o universal senso de absolutos ganha seu verdadeiro sentido e interpretação, as coisas são colocadas nos seus devidos lugares e a nossa incapacidade de interpretar corretamente o Divino é, num dado nível, contornada, já que recebemos do Filho o legado de Sua própria interpretação do Pai. Diante da dificuldade humana em atingir o Pleno, o humanidade tem se dividido em três grupos: o daqueles que se esforçam em negar a existência do Pleno (embora O procurem), o daqueles que procuram o Pleno em religiões e filosofias (interpretações incompletas do Todo) e o daqueles que em Cristo, o Perfeito Encarnado, depositam as suas vidas.

O Perfeito existe, deixou Sua marca dentro de todos os homens e Se revelou pessoalmente ao mundo. Não há como fugir dEle, tanto que o fato de eu estar escrevendo e você lendo (e refletindo), já é evidência mais do que suficiente da Sua existência.

Natanael Pedro Castoldi

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