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A Sinceridade da Fé - A Expansão Inicial da Igreja

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Como há quem goste de encontrar problema em tudo relacionado ao cristianismo, não é de espantar que precisemos tratar da verdade sobre a expansão inicial dos cristãos ter se dado de modo quase sempre muito pacífico - uma vez que alguns afirmam que o cristianismo somente se alastrou através da violência. Gostaria eu de saber que tipo de violência teria feito um pequeníssimo grupo persuadir o Império Romano, mas, que seja, segue um breve estudo sobre a questão, as conclusões eu deixo pra ti.

          Como os temas de debate geralmente se desenrolam nos primeiros séculos da Era Cristã e Idade Média, pretendo trazer luz sobre como sucedeu a verdadeira expansão da fé nesses períodos iniciais, mesmo mediante o martírio.
Com base no livro Os Cristãos, de Tim Dowley, pgs 8-18 e 64-67, verifiquei que, ao contrário do que se prega, a Igreja não se expandiu exclusivamente com o uso da força, pelo contrário: as marchas evangelísticas se deram, essencialmente, pelas empreitadas de corajosos cristãos montados em jumentos, padecendo de privações e sacrifícios em nome da divulgação da Mensagem. Segue um relato breve dos primeiros séculos de expansão.

O Ministério de Cristo:
Jesus, o Messias, trabalhou por três anos, os três anos finais de sua vida, na divulgação e consolidação da Nova Aliança, prometida ainda no Antigo Testamento. Nesse período ele fez coisas incomuns: expulsou com eficiência demônios, perdoou o pecado das pessoas, curou enfermidades e falou, com ousadia, palavras dotadas de alto grau de sabedoria e razão. Esse homem, vivendo de forma itinerante, consumou seu ministério numa pequena região da Palestina, ao lado de outros 12, que ele escolheu, e com o apoio de alguns outros homens e mulheres. Multidões perceberam que esse homem era diferente, alguém que curava numa época precária da história de Israel, alguém que expulsava demônios e perdoava pecados em tempos de grandes trevas para o povo judeu, alguém que trazia palavras de liberdade para os cativos. Não tardou e ficou evidente de que se tratava do libertador dos israelitas, daquele que há muito as Escrituras profetizaram. A disseminação dessa Boa Nova remexeu os alicerces da Galileia e, em menos de três anos desde que começou a falar aos judeus, o movimento de Cristo já chamava a atenção e fazia temerem as autoridades judaicas e o governador da província.
O problema é que a profecia messiânica do Velho Testamento se apresenta em duas fases: uma em que Cristo vêm como um servo, como o sacrifício pela humanidade, em prol da sua libertação das garras da morte -Isaías 53- e outra em que o Messias vem como governante, aquele que reinará eternamente na Jerusalém Celestial -2 Samuel 7:8-17. O povo não percebia essa distinção e, portanto, ao ver que Jesus parecia não se importar, de momento, com o jugo romano e que, logo, não havia vindo para libertar Israel -Mateus 22:20-21-, desacreditou-o e requisitou a sua crucificação - consumando o chamado da Primeira Vinda de Cristo. A crucificação lançou temor sobre os poucos que seguiam Jesus e dispersou todos os que haviam dado algum crédito a ele. O terremoto e a escuridão do momento em que Jesus morreu foram evidências fortes, mas o medo ou a raiva eram maiores. Eu tento imaginar o que se passou pela cabeça dos apóstolos quanto Cristo morreu: uns devem ter achado que não estavam muito bem da cabeça quando seguiram aquele que morrera, outros, quem sabe, se envergonharam de terem estado com aquele "louco", outros ainda, até podem ter continuado a crer nEle, mas temiam grandemente a retaliação que poderia cair sobre eles da parte dos outros judeus e dos soldados romanos. Mas a novidade é que Jesus ressuscitou e esteve 40 dias com seus discípulos.

A Igreja Primitiva:
A ressurreição de Cristo liberou uma energia sem tamanho. Fez os apóstolos, descrentes ou amedrontados, se erguerem com imensa ousadia para pregar a Boa Nova numa terra que odiava Jesus e mediante um império inteiro que não queria nada com a nova fé. As palavras e a ressurreição de um carpinteiro fizeram de camponeses da Galileia uma verdadeira ameaça ao Império Romano. Em 36 d.C. há os primeiros registros da origem da nova religião, quando alguns camponeses incultos, homens e mulheres, subiram em tribunas improvisadas e, em Jerusalém, passaram a pregar a ressurreição daquele que havia sido crucificado. Esse começo insignificante era menos do que a ponta do iceberg. Logo surge Paulo, que na figura de Saulo fora um fariseu perseguidor dos primeiros cristãos, mas que se convertera à fé cristã por intermédio de uma visão do próprio Cristo, que deixou-o cego por algum tempo.
Paulo e os outros apóstolos não tardaram para divulgar a Boa Nova, não relevando a perseguição da parte dos gentios, adeptos de religiões milenares, nem dos judeus, que consideravam a fé cristã uma seita herética do judaísmo. Alguns poucos homens viajaram pelo Mundo Antigo e fundaram igrejas, a começar em cenários onde a notícia da ressurreição de Cristo já devia ter chegado por intermédio de comerciantes e viajantes e, na sequência, em terras onde a notícia da nova religião já se fazia pertinente. A Igreja logo estava presente na Palestina, na Ásia Menor, na África do Norte, na Grécia e em Roma: a notícia do Cristo ressurreto chegou como vento à toda a Europa Mediterrânea e, pelas palavras ousadas dos primeiros cristãos, se fez alternativa interessante para homens desgostosos com seu modo de vida e a sua religião herdada. No final do século I a Igreja já se via fixada em toda a Costa Mediterrânea e no início do século II os cristãos já representavam grande parte da população das províncias romanas da África e Ásia Menor. Enquanto isso a Igreja se fortaleceu na Espanha e chegou até a Grã-Bretanha.
As razões para essa explosiva expansão são inúmeras e nenhuma envolve violência, pelo contrário. A ressurreição de Cristo foi uma notícia retumbante, que se alastrou rapidamente pelas excelentes estradas romanas, por intermédio de legionários -como aqueles que crucificaram Jesus-, que levaram a fé cristã até a guarda pretoriana do imperador, também por intermédio dos apóstolos, outros cristãos e, até mesmo, governantes, como o rei Tirídates, que oficializou o cristianismo como religião da Armênia no início do séc. IV, sendo a primeira nação da história a fazê-lo. Foi fácil para a fé cristã, vívida, substituir as religiões milenares dos povos mediterrâneos, que jaziam mornas e ritualísticas.
Foi por essa razão que o cristianismo, inicialmente perseguido pelo povo em geral, passou a sofrer perseguições organizadas pelo Império, a começar por Nero, que atribuiu, maliciosamente, aos cristãos a culpa sobre um imenso incêndio em Roma. A fé cristã, porém, só se consolidou com mais poder mediante a opressão, pois a grande maioria dos fiéis resistia até a morte, servindo de exemplo ao povo em geral - logo, o número de novos cristãos passou a ser muito maior do que o de mártires. A história segue com Constantino fazendo a fé cristã ser tida como a religião oficial do Império.
O livro Uma História Politicamente Incorreta da Bíblia, de Robert J. Hutchinson, na pg 192, nos informa que o aumento do número de cristãos era de algo entorno de 40% por década, isso no início da Era Cristã, vejamos:
- 1 mil no ano 40
- 1,4 mil no ano 50
- 7530 no ano 100
- 40.496 no ano 150
- 217.795 no ano 200
- 1,1 milhão no ano 250
- 6,3 milhões no ano 300
- 33,8 milhões no ano 350
Todo esse crescimento se deu basicamente nos tempos em que a fé cristã era perseguida e marginalizada.

A Igreja Romana:
A segunda expansão da fé cristã se dá na sequência à oficialização, ocorrendo por volta do século V. Como religião oficial de Roma, muitos novos cristãos surgiram, pois não havia mais medo de se aderir à grande religião, consequentemente todas as terras do Império passaram ser doutrinadas com essa fé. Houveram, sim, abusos e pressões da parte do governo, mas, de modo geral, os pagãos tornaram-se cristãos por opção. Já estou falando da época em que o Império Romano do ocidente se via resumido à cinzas.

Igreja Medieval:
Para que se compreenda da forma saudável como sucedera a expansão medieval da fé cristã, precisamos atentar para o fato de que seus maiores promotores foram monges missionários, não exércitos. A figura de dois ou três missionários numa terra estranha, dominada pelo paganismo, evidentemente não era apelativa, já que os povos locais se viam em larga maioria e, portanto, jamais cederiam à ameaças - após a Queda de Roma, os cristãos ocidentais não tinham condições militares de subjugar a maioria dos povos bárbaros. Os que se convertiam através das palavras do monge missionário o faziam por livre vontade e desafiando toda uma cultura pagã milenar, tradicional, na qual se alicerçava todo o governo local. Não podemos, também, esquecer da ousadia desses missionários, que estavam dispostos a entregar a sua vida pela causa cristã - vale lembrar que eles dificilmente saiam lucrando materialmente com isso, já que muitos dos monges missionários eram mendicantes.
Podemos começar a segunda expansão cristã na Irlanda, Grã-Bretanha, quando Patrício comandou uma restauração do alicerce cristão que existira na região antes da queda romana. Por meio disso, o povo irlandês converteu-se e os monges celtas formaram um dos maiores polos missionários de seu século, V d.C. Antes do século VI boa parte das Ilhas Britânicas, Europa Central e Oriental já haviam sido evangelizadas por esses monges - dos quais os mais conhecidos foram Columba e Columbano, Columba (521-597 d.C.) foi o fundador do mosteiro escocês de Iona.
Iona, por sua vez, enviou um missionário de nome Aidan (651 d.C.) para ajudar o rei Oswald, da Nortúmbria, a converter o seu povo ao cristianismo. Sua missão estabeleceu Lindisfarne, onde existira um dos mais famosos mosteiros medievais – destruído brutalmente pelos vikings. Enquanto isso, outros monges celtas converteram os saxões orientais, os mércios e os anglos orientais da Inglaterra.
Outro monge celta, Columbano (543-615 d.C.), já citado, viajou para a Gália e fundou mosteiros em Anneguy, Luxeuil e, por fim, Bobbio, na Borgonha. O mesmo monge ainda pregou aos alamanos, o que desencadeou a evangelização no sul da Alemanha. O monge Amando (584-679 d.C.) pregou, ainda, aos bascos, eslavos, francos e neerlandeses. Porém o impulso missionário irlandês foi interrompido devido aos ataques vikings que, por sinal, tiveram como estopim o saque ao mosteiro de Lindisfarne. Então outro pólo missionário entrou em ação: o algo-saxão.
Há vários monges anglo-saxões que merecem destaque, um deles é Wilfrido de York (634-709 d.C.), que apresentou o cristianismo aos frísios, seguido por seu discípulo, Wilibrordo (739 d.C.), que fundou um mosteiro na Alemanha. Também temos Winfrith de Crediton, mais conhecido como Bonifácio, "o apóstolo da Alemanha" (680-754 d.C.), que levou a fé à Alemanha, mais especificamente a Baviera, a Turíngia e a região de Hesse. Foi esse monge que corajosamente cortou o Carvalho de Thor e com a madeira construiu uma capela cristã. Bonifácio ainda fundou uma abadia em Fulda.
Enquanto ocorria a evangelização alemã, o Evangelho se disseminava no Norte. O mais famoso missionário da época na Escandinávia foi Anscar (801-865), enviado da França para evangelizar a Dinamarca, onde construiu uma pequena igreja em Hedeby, mas só obteve êxito quando a religião cristã fora oficializada por intermédio do rei Canuto. O mesmo monge também fora convidado pelo rei Björn, da Suécia, para ajudá-lo a fundar a Igreja Sueca.
Na sequência, século IX, houve a evangelização da Europa Oriental, principalmente por intermédio de dois irmãos, Cirilo (826-869) e Metódio (815-885), que foram enviados pela Igreja Oriental para a Europa Central, estabelecendo a Igreja na Morávia e Boêmia.

Essa é a história resumida das duas primeiras expansões cristãs. Você consegue perceber qual o caráter fundamental da evangelização da Europa? Missões, evangelismo puro e simples, sem o apelo militar – claro, com algumas exceções... Vale ressaltar que vários reis de povos pagãos convidaram monges missionários para ajudá-los na conversão de suas nações. O fato é que a violência foi mais usada na Igreja Medieval quando esta se via muito corrompida e infectada pelos poderes seculares, a fim de assegurar, pelo medo, a permanência dos cristãos sob o jugo católico, não necessariamente a sua conversão.

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