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Posso Confiar no Testemunho Oral Acerca de Cristo?

-> Apresentação e Índice
A confecção dos textos neotestamentários dependeu de uma tradição oral - os apóstolos e evangelistas que escreveram, antes transmitiram oralmente suas experiências com o Messias e, no momento da redação, consultaram outras testemunhas oculares. Muitos sugerem que antes de redigidas as Escrituras do Novo Testamento, pequenos documentos foram escritos para registrar a tradição oral acerca de Cristo. A confusão que hoje se faz com relação às bases orais do cristianismo está fundamentada no preconceito bastante moderno sobre a falível arte de contar histórias e aumentá-las - observa-se o passado segundo as singularidades do presente: o cuidado que os antigos, principalmente os judeus - os primeiros e mais sérios historiadores da Antiguidade - tinham na transmissão oral de suas experiências, principalmente com relação às experiências religiosas - pois eles nutriam um respeito muitíssimo grande por Iavé, temendo deturpar os fatos -, impossibilita aquilo que alguns céticos chamam de "telefone sem fio", de uma história deturpando-se à medida que se espalha oralmente. Trabalhemos melhor o tema:

Índice: 1 - A redação do texto aconteceu logo depois dos eventos; 2 - A tradição oral do Novo Testamento é confiável; - Os antigos judeus eram treinados para memorizar palavras; - Entendendo as divergências; - Não é o mesmo que brincar de "telefone-sem-fio"; - Os discípulos tinham um caráter aprovado; - A harmonia entre os relatos; - Os apóstolos teriam algum interesse em deturpar o material?; - Os apóstolos não pouparam detalhes incômodos; - Os relatos são corroborados por evidências externas; - Os primeiros cristãos não viam a tradição oral como um obstáculo; 3 - O texto que temos atualmente é o mesmo que foi inicialmente recebido pela tradição oral?; Conclusão.

1 - A redação do texto aconteceu logo depois dos eventos:
A diferença entre a tradição oral e o texto escrito, é que podemos saber com exatidão o que se pensava no momento em que o texto foi redigido - por isso, para nós, a evidência escrita é mais importante e considerada mais segura. Geralmente os céticos alegam que os documentos neotestamentários foram confeccionados da metade do Segundo Século em diante, dando tempo para a transmissão oral deturpar significativamente os eventos originais, mergulhando-os em mitologia. Mas há um pequeno problema aqui: há inquestionáveis evidências de que todo o Novo Testamento foi escrito até o final do Primeiro Século, situando-se entre vinte e sessenta anos após a morte e ressurreição do Messias - e tudo o que foi escrito na década de 50, vinte anos depois da ascensão de Jesus, não encontra contradição com o que foi redigido posteriormente e é suficiente para sustentar tudo o que temos em cristologia. Quando consideramos a redação do Novo Testamento no tempo de vida das milhares de testemunhas oculares, percebemos que não deu tempo para a tradição oral transformar a história em mito. Vamos a alguns exemplos:

- Papias, Bispo de Hierápolis, na Frígia, falecido em 130 d.C., falou sobre a confecção de Mateus, João e Marcos. 
- Há um fragmento do Evangelho de Marcos datado de, no máximo, 50 d.C. Ele foi encontrado em Qumran, abandonada em 70 d.C., e apresenta um estilo que foi usado na região até o ano 50. Nas cavernas de Qumran também foram encontrados outros fragmentos de Marcos, além de pedaços das epístolas de Paulo (1 Timóteo e Romanos) e das epístolas de Tiago, de Pedro e do livro dos Atos dos Apóstolos - todos datados de algo entre 50 e 70 d.C.
- Há uma significativa porção do Evangelho de João que foi datada de 125 d.C., considerando a existência do original em circulação pelo menos no ano 100 d.C.
Fonte: Ciência e Fé em Harmonia, Prof. Felipe Aquino, Cléofas, 2012, pgs 154-162.
- Há algo entre 10 e 15 manuscritos neotestamentários datados de, no máximo, 100 anos após a conclusão do Novo Testamento.
Fonte: Origem, Confiabilidade e Significado da Bíblia, organizado por Wayne Grudem, C. John Collins e Thomas R. Schreiner, Vida Nova, 2013, Capítulo 12 por Daniel B. Wallace, pg 113.
- Existem cerca de 75 fragmentos de papiro datados desde 135 d.C. até o século VIII, contendo partes de 25 dos 27 livros do novo Testamento, totalizando 40% do texto.
Fonte: A Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Mundo Cristão, 2007, pg 1302.
- A epístola de Clemente aos coríntios (95 d.C.) cita os Evangelhos, Atos, Romanos, 1 Coríntios, Efésios, Tito, Hebreus e 1 Pedro; as cartas de Inácio (115 d.C.) citam Mateus, João, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, 1 e 2 Timóteo e Tito.
Fonte: Por Que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 45.
- As epístolas de Clemente, Inácio e Policarpo, datadas de 95 a 110 (ou 115) d.C., citam 25 dos 27 livros do Novo Testamento. Somente Judas e 2 João não foram citados, mas já haviam sido escritas, pois Judas era familiar de Jesus e 3 João foi escrita depois de 2 João.
Fonte: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateus, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, pg 241.
- Segundo Amy Orr-Ewing, com os manuscritos datados de 180-225 d.C., como o Papiro Chester Beatty e o Papiro Bodmer II, XIV e XV, é possível reconstruir de forma completa os Evangelhos de Lucas e João, os livros de Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, Hebreus, parte dos Evangelhos de Mateus e Marcos e parte dos livros de Atos e Apocalipse.
Fonte: Por Que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 44.
- Há fortes evidências para a redação de muitos dos documentos neotestamentários entre as décadas de 40 e 50, com uso de fontes da década de 30. Análises cuidadosas da epístola de Tiago apontam, com categoria, para uma redação feita, no máximo, no ano 46 d.C.; e algumas das mais sérias análises da epístola de Paulo aos Gálatas sugerem sua redação por volta do ano 48 d.C.
- Paulo escreveu 1 Coríntios por volta de 55 e 56 d.C., mas nalgum momento ele transferiu para a carta um credo cristão da década de 30 d.C. - de alguns anos após a ressurreição de Cristo. 1 Co 15:3-8 é declarada como a transmissão de um conhecimento que Paulo recebeu sobre a ressurreição de Jesus, que teria sido formulado entre 18 meses e 8 anos após o evento. Um testemunho tão antigo da ressurreição do Messias é, também, um testemunho sobre a Sua divindade.
- Tanto Filipenses 2:5-11, quanto Colossenses 1:15-20 se parecem com antigos hinos da Igreja Primitiva, que teriam sido aprendidos por Paulo quando ele esteve em Jerusalém, na década de 30 d.C. O prólogo de João 1:1-5 também soa como um antiquíssimo hino sobre a divindade do Messias. Há algo entorno de 41 sessões do Novo Testamento que se parecem com credos formulados desde os primeiros anos da Era Cristã.
Fonte: Apologética Cristã Para o Século XXI, Louis Markos, Ph.D., Central Gospel, 2013, pgs 186-189 e 223-225; Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, pgs 249 e 252.
- William F. Albright, famoso arqueólogo bíblico, certa vez declarou que "Nós já podemos dizer enfaticamente que não existe mais nenhuma base sólida para que qualquer livro do Novo Testamento seja datado após 80 d.C., duas completas gerações anteriores à época de 130 e 150, defendida pelos mais radicais críticos do Novo Testamento." E também disse que a época definitiva para a redação do Novo Testamento se situa "provavelmente em algum período entre 50 e 75 d.C."
- Um grande crítico do Novo Testamento, que outrora defendia a ideia de que o NT foi escrito muito depois dos eventos, mudou de posicionamento quando, por diversão, decidiu investigar os argumentos em favor de uma datação antiga para as Escrituras neotestamentárias. Feita a acurada investigação, o Dr. John A. T. Robinson, do Trinity College, Cambridge, teve que reconhecer, por exemplo, o primeiro esboço de Mateus foi redigido ainda na década de 40 d.C.

O período entre os eventos e a redação do Novo Testamento é "muito pequeno para permitir qualquer corrupção significativa do núcleo essencial e até mesmo do teor específico das declarações de Jesus." Para reforçar a ideia, farei uso das palavras de Howard Vos, quando ele declara que, "do ponto de vista da evidência literária, a única conclusão lógica é que a hipótese para a confiabilidade no Novo Testamento é infinitamente mais forte do que para qualquer outro registro da Antiguidade."
Fonte: Evidências da Fé Cristã, Josh McDowell, organizado por Bill Wilson, Hagnos, 2006, pgs 86-88.

2 - A tradição oral do Novo Testamento é confiável:
O tópico anterior já é suficiente para que consideremos confiável o conteúdo apresentado no Novo Testamento, pois tal documento foi redigido muito pouco tempo depois dos eventos - considerando outras obras da Antiguidade -, impossibilitando deturpações míticas. Ainda assim, pode haver a desconfiança de que os dez ou vinte anos entre a morte de Cristo e os primeiros esboços do Novo Testamento, dominados pela tradição oral, tenham perpetuado alguma distorção, mesmo nos menores níveis. É sobre isso que falaremos daqui pra frente:

- Os antigos judeus eram treinados para memorizar palavras:
Christiane Rancé, sobre a redação do Novo Testamento, declara que "era conveniente fixar as informações pertencentes a uma tradição oral transmitida com rigor". Sobre as epístolas paulinas, ela desfere um comentário que serve para todos os documentos neotestamentários: "os escritos de Paulo se dirigiam a seus contemporâneos. Eram lidos para um público que conhecia a vida de Jesus, de modo que não era necessário lembrar todos os acontecimentos. E quando essa lembrança às vezes ocorre, tem a intenção de refrescar a memória de comunidades cristãs afastadas ou elucidar algum ponto litúrgico. Essas alusões atestam, de fato, a existência de um fundo de conhecimentos comuns e forte tradição oral que se repetia de uma comunidade cristã a outra, de maneira extremamente rápida."
Fonte: Jesus, Christiane Rancé, L&PM Pocket, 2012, pg 24.

Nós estamos falando do Povo do Livro numa terra e num período no qual os livros eram raros. Considerando a importância das Escrituras para os judeus, mas o acesso limitado às Escrituras judaicas, os judeus do período se especializaram em memorizar vastas passagens, livros inteiros ou, até mesmo, todo o Antigo Testamento. Considerando o incentivo à alfabetização dos meninos, objetivando a leitura da Palavra, os judeus tinham um índice de analfabetismo muito menor do que a média no Império Romano - eles liam, geralmente em voz alta, procurando guardar as passagens na memória.

Segundo Craig Blomberg, Ph.D., a educação, o aprendizado e o ensino nas comunidades religiosas eram ministrados oralmente - e, como já disse, havia quem conseguisse decorar todo o Antigo Testamento. Nessa cultura, sendo homens todos os discípulos, é bastante provável que os discípulos tivessem conseguido memorizar longos discursos de Cristo com bastante precisão. Explicando: os meninos galileus dos dias de Jesus iniciavam seus estudos da Torá aos 6 anos e aos 10 já tinham a Torá decorada. A questão para os discípulos se torna ainda mais provável quando consideramos que algo entorno de 80 a 90% das palavras de Jesus foram originalmente proferidas em forma poética - com métrica, versos harmônicos e paralelismos -, facilitando a memorização - e é certo que Cristo repetiu diversas vezes as Suas máximas e alguns de Seus discursos.

Segundo Daniel-Rops, precisamos nos libertar de nossas percepções modernas para entender o funcionamento da transmissão oral no Mundo Antigo, uma vez que nossas mentes enfraqueceram-se pela completa dependência do papel e da escrita, coisa que não "ocorre entre muitos povos orientais que exigem muito mais da memória; também era assim no tempo de Cristo. Aprender de cor e recitar eram duas operações normais para a transmissão de um texto. Os grandes escritores de Israel (...) eram literalmente grande oradores (...) a Mixná, a parte mais essencial do Talmude, foi escrita somente depois de séculos de transmissão oral. 'Um bom discípulo', diziam os rabinos, 'é como uma cisterna bem construída: ele não deixa escapar nem uma gota de água do ensino de seu mestre'. Temos que imaginar a primeira instrução do evangelho do mesmo modo: aquilo que os apóstolos acumulavam de memória, eles ensinavam infalivelmente aos seus próprios discípulos, que por sua vez o repetiam em seus corações."

- Entendendo as divergências:
O fato de que Jesus certamente repetiu alguns de Seus discursos e de Suas máximas, conforme mudava o público, nos ajuda a compreender os motivos que levaram os Evangelhos a situar determinados sermões em ocasiões diferentes. Mas somente isso não explica as divergências: segundo Blomberg, as culturas orais tinham o costume de introduzir variações em partes da história conforme a ocasião - incluir detalhes, parafrasear ou explicar. Algo entorno de 30 a 40% de toda a tradição sagrada transmitida oralmente no Oriente Médio apresenta variações de uma ocasião para a outra - mas há pontos que nunca são alterados, havendo a possibilidade de a comunidade intervir para corrigir o narrador caso ele reproduzisse erroneamente aspectos importantes do relato. Essa é praticamente a variação de relato encontrada entre os sinóticos: de 10 a 40% - muitos discípulos e outras testemunhas memorizaram o que Jesus disse e fez, mas sentiam-se à vontade para relatar suas lembranças de diferentes maneiras, atentando para a preservação da essência dos ensinamentos e dos atos originais do Mestre.

- Não é o mesmo que brincar de "telefone-sem-fio": 
Alguns declaram que a tradição oral deturpou a verdade dos fatos sobre Cristo, pois funciona como a brincadeira do telefone-sem-fio - na qual uma pessoa sussurra no ouvido da outra a frase que ouviu e assim por diante, até que, no final, nada do que foi dito inicialmente foi preservado. Mas há muitas diferenças entre uma brincadeira - na qual a graça está em forçar o erro - e a ocasião da transmissão da verdade sobre o Messias.

Ao invés de sussurrarem nos ouvidos uns dos outros as mensagens e eventos da vida de Cristo, os cristãos do Século I repetiam em alto e bom som o que ouviram dos outros, recorrendo às fontes para ver se aquilo que receberam era confiável. Se as declarações não fossem fidedignas, poderiam ser corrigidas. A comunidade local estaria monitorando constantemente a reprodução da mensagem e sempre disposta a interferir em caso de distorção. Lembrando que, entre a transmissão oral e a confecção das Escrituras neotestamentárias, ainda tínhamos milhares de testemunhas oculares dos fatos para acabar com boatos mentirosos.

- Os discípulos tinham um caráter aprovado:
Além de considerarmos as impossibilidades, em termos de capacidade e tempo, de ter havido alguma distorção significativa entre os eventos e a redação dos mesmos, precisamos verificar se os discípulos estariam dispostos a mentir - o que cai por terra quando consideramos, primeiramente, o caráter deles. A sua disposição em seguir Cristo, com Suas exigências morais elevadíssimas, já demonstra a sua conduta moralmente coerente - além disso, dez dos onze apóstolos que propagaram o Evangelho depois da morte do Messias foram terrivelmente torturados e acabaram sendo mortos por causa da mensagem de Jesus. Será que eles aceitariam sofrer e morrer para perpetuar uma mentira?

- A harmonia entre os relatos:
Na verdade, as pequenas divergências existentes entre os Evangelhos são argumentos que favorecem a sua veracidade: isso significa que pessoas diferentes, baseadas em memórias singulares, escrevendo em datas e circunstâncias discordantes, conseguiram concordar em quase tudo - não há contradições doutrinárias e nenhuma divergência cronológica e histórica relevante. Na verdade, se consideramos os padrões da época, os Evangelhos são muito harmoniosos entre si - e as variações existentes, em sua maioria paráfrases, omissão ou seleção de fatos, abreviações ou acréscimos explicativos, que em nada alteram o significado. Sobre isso, Henri Daniel-Rops afirma:

"Santo Irineu falou com muita precisão do evangelho tetramórfico, isto é, o evangelho existente sob quatro formas. E, a partir da metade do segundo século, com Clemente de Alexandria e o Cânon Muratoriano, era a prática - e a única prática correta - dizer:  o Evangelho segundo São Mateus, segundo São Marcos, segundo São Lucas, segundo São João; deixando claro que aqui existe um corpo de verdade, substancialmente um e único, comunidado aos homens em diferentes formas."

Para Hans Stier, da escola historiográfica clássica, a harmonia em dados básicos e a divergência nos detalhes são sinal de credibilidade, já que as narrativas fabricadas costumam ser integralmente consistentes e harmoniosas.

- Os apóstolos teriam algum interesse em deturpar o material?
É verdade que os discípulos amavam o Messias e que, portanto, não poderiam ser absolutamente imparciais em seus relatos. Mas, segundo Blomberg, as pessoas "são capazes de honrar e respeitar alguém a tal ponto que se sintam impelidas a registrar sua vida com a maior integridade possível." Isso seria uma demonstração de amor pelo indivíduo de quem se escreve. Como a configuração atual dos Evangelhos poderia ser fruto de manipulação dos apóstolos? A única coisa que eles ganharam com essa história foi pobreza, críticas e martírio - eles foram pressionados a negar Cristo e isso, humanamente falando, teria sido mais benéfico para interesseiros. Esse não é o caso dos apóstolos: eles não eram nem mentirosos e nem interesseiros.

- Os apóstolos não pouparam detalhes incômodos:
Geralmente, as pessoas procuram proteger a si mesmas e aos outros quando relatam algum evento - poupando os ouvintes de detalhes embaraçosos. Nem isso os apóstolos fizeram, uma vez que há registros bastante desconfortáveis para eles mesmos em seus textos - as palavras duras de Cristo e Seus ensinamentos excessivamente éticos; o fato de que Cristo não pôde realizar milagres em Nazaré; o trecho no qual o Mestre afirma "não saber o dia e nem a hora" de Seu retorno; a falta de fé e a tripla negação de Pedro; o aparente abandono de Jesus na cruz; o evidente fato de que os discípulos quase sempre entendiam mal o que o Mestre dizia; o momento no qual Tiago e João pediram ao Messias os melhores lugares no Seu reino...

- Os relatos são corroborados por evidências externas:
A arqueologia tem desenterrado muitos objetos e localidades do mundo do Novo Testamento e, além disso, há diversas declarações pagãs e judaicas acerca do ministério de Cristo. Algumas curiosidades sobre a arqueologia bíblica:

- Há algumas décadas foram catalogados mais de "25.000 sítios do mundo bíblico confirmados por achados arqueológicos".
- A obra de 17 volumes "Arqueologia, a Bíblia e Cristo", Dr. Clifford Wilson, ex-diretor do Instituto Australiano de Arqueologia de Melbourne, traz mais de 5.000 fatos relacionados a arqueologia bíblica.
- Sobre a arqueologia e o Novo Testamento, Norman Geisler e Ron Brooks observam que "a evidência para a sua confiabilidade histórica é surpreendente". John Warwick Montgomery também diz: "A pesquisa arqueológica tem confirmado, seguidas vezes, a confiabilidade da geografia, da cronologia, e da história geral do Novo Testamento."

Dentre essas evidências que corroboram o testemunho dos Evangelhos, é interessante notar os dizeres de inimigos da fé que, do primeiro século em diante, sustentaram a existência de Cristo, a natureza de Sua mensagem e a prática moral dos discípulos - ora, se inimigos, que tinham tudo para desejar o fim do cristianismo, negando a existência do Messias e demonstrando provas, caso Jesus fosse uma invenção, atestaram para a Sua estada entre nós, é bastante provável que os Evangelhos estejam certos em muitas de suas principais ideias. Eles acusam Cristo de ser um feiticeiro, um herege, o responsável pela disseminação de uma fé estranha, tratado como Deus pelos Seus seguidores. Mais informações: Uma Análise das Evidências Extra-Bíblicas sobre Jesus.

Fontes: Em Defesa de Cristo, Lee Strobel, Vida, 2011, capítulo 2; O Jesus Fabricado, Craig Evans, Cultura Cristã, 2009, pgs 34-37; Talmidim, Ed René Kivitz, Mundo Cristão, 2013, pg 7; Os Fatos Sobre a Bíblia, John Ankerberg, John Weldon e Dilon Burroughs, Actual, 2011, pgs 32 e 34; Evidências da Fé Cristã, Josh McDowell, compilado por Bill Wilson, Hagnos, 2006, pgs 81-82.

- Os primeiros cristãos não viam a tradição oral como um obstáculo:
Papias valorizou a "voz viva e constante" dos apóstolos e seus discípulos mais do que os livros. A Mixná favoreceu a tradição oral, alegando que os documentos escritos poderiam ser falsificados. Daniel-Rops complementa:

"Da mesma maneira, Santo Irineu, bispo de Lyon, lembra o tempo em que ouviu São Policarpo, o grande bispo de Esmirna, narrando o que ele próprio lembrava de São João. Aqui podemos sentir o calor humano, a mesma verdade da vida; quando, muito posteriormente, o texto escrito foi definitivamente imposto, após ter rivalizado por muito tempo com a palavra falada, seria possível imaginar que nessas condições os dois tivessem sido diferentes? O texto escrito preserva, para todos que podem ouvir, a marca comovente desses testemunhos vivos."

Havia muito zelo da parte dos apóstolos sobre quem estaria no centro da disseminação do material sobre Cristo, coisa que se verifica na escolha do substituto de Judas Iscariotes, Matias, escolhido por ter acompanhado Jesus em todo o Seu ministério. Como disse Harold Riesenfeld, estudioso do Novo Testamento: "as palavras e as ações de Jesus são uma palavra santa, comparável ao Antigo Testamento, e a transmissão desse precioso material é confiado a pessoas especiais." De fato, os discípulos seguiram a prática das comunidades judaicas na seleção de pessoas especiais, encarregadas da preservação e transmissão da tradição.

O pensador sueco, Birger Gerhardsson, observou os procedimentos utilizados pelas autoridades judaicas para receber, selecionar e transmitir com precisão a sua tradição oral, encontrando evidências do uso de observâncias semelhantes entre as comunidades cristãs para perpetuar a tradição oral sobre Jesus. Diversas citações rabínicas são apontadas por Gerhardsson para evidenciar o quão importante para a cultura judaica era o receber e transmitir de sua tradição oral com o máximo de precisão. Alguns exemplos estão no Talmude babilônico: "O mago murmura e não entende o que está dizendo. Da mesma maneira o tanaíta recita e não entende o que ele está dizendo"; "se deveria sempre recitar, (embora se esquecesse e) embora não se entendesse o que se está dizendo." Em diversos textos, o pupilo é apresentado como aquele que aprende uma doutrina específica por meio de palavras: "ele a aprendeu dele 'quarenta vezes', e ela se tornou para ele como o seu tesouro." Há também diversas evidências de que os rabinos apresentavam para seus aprendizes mecanismos capazes de facilitar a memorização - um desses mecanismos era a leitura em voz alta: "Deixe seus ouvidos ouvirem o que você permite passar pelos seus lábios"; "Cante [a Torá] todos os dias, ente todos os dias."

Há também pesadas advertências contra o esquecimento, como a seguinte: "Todo o homem que esquece uma única palavra da Mixná (aquilo que ele aprendeu), a Escritura o considera como se ele tivesse perdido a própria alma!"

A cultura judaica valoriza muito os livros, mas exerceu a oralidade mais do que a escrita. A tradição oral judaica foi preservada por centenas de anos, até ser compilada na Mixná, 200 d.C., no Talmude palestino, 350-425 d.C., e no Talmude babilônico, 500 d.C. É dessa cultura que vieram os discípulos de Jesus, tendo sido treinados em parte do que foi acima demonstrado, portanto não é de se espantar que tenham conseguido memorizar com exatidão as palavras e atos de Jesus que desejaram preservar - ainda mais porque Jesus, um bom educador, transmitiu Suas principais mensagens em segmentos fáceis de lembrar, a exemplo das parábolas, concisas e facilmente recordáveis.

Uma última observação relevante para esse tópico está no temor que os judeus tinham de Deus. Uma expectativa de milênios pelo Messias, o risco de caírem em heresia e serem mortos, excluídos da comunidade judaica ou, ainda, amaldiçoados pelo Criador, além do costume de lidar com "alarmes falsos" - messias fajutos -, impediria que os discípulos de Cristo tivesse seguido a qualquer falastrão ou deturpado as mensagens recebidas. Assim como os seguidores de um rabino procuravam registrar com exatidão, em amor e respeito pelo mestre, os discípulos de Jesus somaram esforços na preservação maximamente precisa da Mensagem, como afirma Gehardsson:

"Toda a probabilidade histórica está a favor dos discípulos de Jesus e de todo o cristianismo primitivo por terem conferido aos dizeres daquele que acreditavam ser o Messias, no mínimo, o mesmo grau de respeito que os alunos de um rabino conferiam às palavras de seu mestre!"
Fonte: Evidências da Fé Cristã. Josh McDowell, compilado por Bill Wilson, Hagnos, 2006, pgs 83-85.

3 - O texto que temos atualmente é o mesmo que foi inicialmente recebido pela tradição oral?
Uma coisa é termos consciência de que a redação original dos escritos neotestamentários preserva a mesma mensagem que a tradição oral transmitia - tradição essa, absolutamente fiel aos fatos, considerando que encontrou as páginas dos manuscritos a partir de duas décadas depois de encerrados os eventos messiânicos e atentando para a capacidade, os critérios e o caráter dos apóstolos -, outra é sabermos se as atuais traduções e versões do Novo Testamento são idênticas aos escritos originais, que preservam a fidedigna tradição oral. Para muitos, o que temos hoje em mãos são "cópias de cópias de cópias de cópias" - numa sequência que chega às centenas ou milhares -, de modo que praticamente nada sobrou dos autógrafos. Será que isso é verdade?

Atualmente as melhores traduções e versões não são produzidas partindo de outras traduções modernas, mas da seleção dos melhores dentre os milhares de manuscritos antigos escritos na língua original do Novo Testamento. Temos, então, traduções e versões que partem de textos consideravelmente próximos dos autógrafos - nos estão disponíveis excelentes textos do Novo Testamento completo já dos primeiros séculos da Era Cristã, além de fragmentos de todo o texto neotestamentário, encontrados também nas palavras dos Pais da Igreja, da primeira porção de décadas após a consumação dos eventos, como já apresentado no início do artigo. Só com base nisso, já podemos ter alguma ideia sobre como era o Novo Testamento já no Primeiro Século - e uma noção plenamente clara quando pensamos nos três ou quatro primeiros séculos da Era Cristã. O fato de termos em mãos porções significativas do texto neotestamentário dos primeiros cem anos após a conclusão do Novo Testamento nos possibilita formular traduções e versões bastante próximas da ideia original pensada pelos apóstolos. Mas as fontes vão além da antiguidade dos documentos.

A base principal para a descoberta do texto original do Novo Testamento está na quantidade de manuscritos antigos que atualmente dispomos: são aproximadamente 25 mil documentos que nos servem como base - mais de 5 mil só nas línguas originais. Ao mesmo tempo que essa quantidade de manuscritos aumenta o número de variantes entre os textos - a absoluta maioria delas não afeta em nada a mensagem central -, nos possibilita interceptar quais as palavras mais adequadas para cada passagem do texto, isso verificando as melhores tradições e versões antigas, os melhores e mais antigos documentos e a combinação das palavras entre os milhares de manuscritos - quantas vezes tal palavra aparece em determinada frase, por exemplo. Vejamos o que alguns especialistas dizem sobre isso:

"Reconstruir o original (...) [do] Novo Testamento [é fácil] - com uma precisão acima de 99 por cento, com as incertezas restantes sendo insignificantes. (...) Existem 5.300 manuscritos grego e porções, 10.000 da Vulgata Latina, e 9.300 de outras versões. (...) [somando] mais de 24.000 porções de manuscritos (...) sendo que os fragmentos mais antigos datam entre 50 e 300 anos após o manuscrito original ter sido escrito. (...)
É essa abundância de material que tem permitido a estudiosos como Westcott e Hort, Ezra Abbott, Philip Shaff, A. T. Robertson, Norman Geisler, e William Nix colocarem a restauração do texto original com uma precisão acima de 99 por cento." A estimativa de "variações circunstanciais" de Hort é de um décimo de 1 por centro, e a de Abbot é de um quarto de 1 por cento - os números de Hort que incluem as "variações triviais" ainda é inferior a dois por cento do texto.
"O número de manuscritos do Novo Testamento... é tão grande que é praticamente certo que a leitura verdadeira de cada passagem duvidosa é preservada em uma ou outra dessas autoridades antigas. Isto não pode ser dito de nenhum outro livro do mundo." Sir Frederic Kenyon.
- A documentação do Novo Testamento é, pelo menos, 100 vezes mais confiável do que o restante da literatura antiga.
Fonte: Os Fatos Sobre a Bíblia, John Ankerberg, John Weldon e Dilon Burroughs, Actual, 2011, pgs 23-24.

"Aproximadamente um oitavo de todas as variações textuais [dos manuscritos bíblicos] tem alguma importância, a maioria é apenas uma questão de mecanismos de ortografia ou estilo, por exemplo. No total, apenas um sessenta avos pode não ser considerado como 'trivialidade' ou pode ser entendida de alguma forma como uma 'variação substancial'". Norman Geisler.
Fonte: Por Que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 60.

Conclusão:
Depois desse longo estudo, que fiquem claras as seguintes questões:
1 - A tradição oral contida nos autógrafos originais do Novo Testamento é bastante fiel aos fatos, considerando, principalmente, o tempo decorrido entre os eventos e a confecção do texto.
2 - As melhores traduções modernas são basicamente idênticas aos textos originais do Novo Testamento, de modo que temos em mãos a verdade dos fatos conforme foi transmitida oralmente durante e imediatamente após a consumação dos eventos neotestamentários.

Natanael Pedro Castoldi

Leitura complementar:
- Sobre o texto bíblico atual: Posso Confiar no Texto Bíblico Atual?
- Sobre o trabalho dos copistas antigos: A Preservação do Texto Bíblico
- Sobre as fontes do NT: As Fontes Documentais do Novo Testamento

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