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Fuja das Falácias!

Falácia é um erro na argumentação. Nem sempre esse erro é óbvio, possibilitando que muitas pessoas sejam seduzidas por raciocínios mentirosos. Saber interceptar uma falácia é essencial para o desenvolvimento de um debate, tanto para corrigir o opositor, quanto para evitar o deslize. Analisemos algumas das falácias mais conhecidas e perigosas:

- A falácia relativista:
Você certamente já ouviu a seguinte declaração: "Para mim, é verdade". Tal posicionamento é comumente feito pelos que se veem perdendo uma discussão - trata-se apenas de um curinga conveniente para não precisar render-se ao opositor. É lógico que é verdade que a pessoa acredita naquilo que defende, mas será que o objeto de sua defesa realmente é verdadeiro para além do seu universo de crenças pessoais?

Alguém poderia fazer uso da falácia relativista para sustentar a crença em gnomos, dragões falantes ou de um castelo plantado nas nuvens. Pode até ser verdade que a pessoa acredita nisso, mas isso significa que aquilo que a pessoa crê é verdadeiro? Geralmente se utiliza o curinga "isso pode ser falso para você, mas, para mim, é verdade", quando não existem evidências claras e objetivas em favor daquilo que se afirma. Temos aqui uma falácia argumentativa, pois o simples fato de a pessoa acreditar em algo, não constitui um argumento em favor de sua existência.

- A falácia do jogador:
A pessoa acha que terá mais chances de acertar a combinação de números de um determinado jogo partido da ideia de que os números que foram sorteados anteriormente não devem ser novamente considerados. O seu raciocínio é um tanto estranho: como houve uma incidência maior de uma gama de números num primeiro período, as chances de não aparecerem tais números no tempo futuro são maiores. É como desferir a seguinte declaração: "Como um raio caiu sobre minha casa, há menos chances de isso acontecer novamente."

Temos aqui uma falácia, pois a aparição casual de uma combinação de números não é argumento que justifica a aposta em números diferentes na próxima jogada. Muita gente pensa que, por estar jogando há anos na loteria sem nunca ganhar nada, as chances de ganhar nos próximos anos são maiores. Triste ilusão - em cada novo sorteio todos os números são embaralhados novamente.

- O apelo à autoridade:
Ocorre quando justificamos nossa crença em algo simplesmente porque ouvimos alguém famoso ou algum especialista na área defendendo-o. Corriqueiramente o apelo à autoridade suprime a necessidade de maiores evidências para justificar um raciocínio.

Em casos extremos, a autoridade pode ser algo como um biscoito da sorte - a pessoa acredita que encontrará seu parceiro ideal, pois o biscoito disse isso. Isso também acontece quando um ator reconhecido é utilizado para vender televisores ou automóveis, mesmo que ele não tenha nenhuma formação nas áreas que poderiam dar-lhe verdadeiras credenciais para sugerir a compra desses produtos. Por qual motivo uma celebridade deveria saber mais sobre televisores ou automóveis do que você? O problema se torna um pouco mais sutil quando se utiliza um profissional: pode-se fazer uso um médico especializado em traumatologia para falar sobre cardiologia - por ser médico, ele acaba sendo considerado uma referência inquestionável sobre qualquer assunto da medicina quando, na verdade, ele não é o indivíduo mais capacitado para falar sobre o tema em questão. Em casos mais dramáticos, podemos ter como inquestionável a filosofia sugerida por um cientista formado em biologia. Ele é famoso e é cientista, portanto deve ser um ótimo filósofo.

- A falácia "post hoc":
Em latim, "após isto". Tal falácia sugere que necessariamente há uma ligação entre dois eventos, simplesmente porque um aconteceu depois do outro, sendo o primeiro a causa do segundo. Isso é uma falácia, pois o mero fato de uma coisa acontecer depois da outra não nos autoriza a supor que as duas estejam casualmente conectadas. Quando você ligou o fogão para fazer uma torrada, a luz da cidade caiu - isso significa que ter colocado a torrada no fogo foi a causa da queda de luz? Muitas pessoas utilizam "objetos da sorte" baseadas nesse tipo de falácia.

-  O falso dilema:
"Ou A ou B. Não A, logo B." Tal falácia se constitui de raciocínios que apontam para apenas duas escolhas mutuamente exclusivas, sendo que, na verdade, existem outras opções. Considere a sua aplicação: "As pessoas têm ou olhos azuis ou olhos castanhos. Não tenho olhos azuis, logo eles são castanhos". O erro reside no fato de que existem outras cores de olhos - a primeira premissa é falsa e eu não posso tirar conclusões realmente aceitáveis partindo de uma premissa assim. "Ou fazemos caridade, ou saímos de férias" também pode ser considerado um falso dilema, pois não necessariamente a viagem de férias impossibilitaria uma ação caridosa.

Políticos comumente utilizam desse recurso para nos forçar a tomar decisões. Nos debates também é comum encontrarmos falsos dilemas. Cuidado!

- Afirmar o consequente:
"Se A é verdade, B deve se seguir. B verdade, logo A." Tal falácia pode ser exemplificada da seguinte forma: você está trocando as instalações elétricas da sua casa. Diante de um fio desencapado, verifica se a luz está apagada - uma vez que a lâmpada está apagada, sugere que a energia esteja desligada. Toca no fio e leva um tremendo choque. O fato de a lâmpada não estar ligada não significa que a luz da casa esteja desligada - a lâmpada pode ter sido desligada ou pode ter queimado. O raciocínio correto seria: "se A, então B; A logo B".

- A falácia genética:
 Aqui é suposto que B, tendo vindo de A, necessariamente carrega as suas características. Muitas pessoas usam essa falácia para condenar a Igreja: se os cristãos fizeram coisas ruins no passado, certamente todos os cristãos de hoje são maus. Está evidente o erro argumentativo! O filho de um veterano nazista da Segunda Guerra Mundial não necessariamente é nazista. Uma reposta bastante conhecida está na famosa franquia do Star Wars: o fato de Luke ser filho de Darth Vader, não o obrigou a seguir os caminhos do pai.

- A falácia do mascarado:
Segundo Gottfried Leibniz "objetos idênticos devem compartilhar todas as mesmas propriedades". Tal lei é comumente aceita, mas certamente há exceções: imagine que você fosse testemunha de um crime cometido por seu pai mascarado. Você o defende afirmando que seu pai jamais faria isso, mostrando que o mascarado possui uma propriedade que falta ao seu pai. Mesmo que a sua alegação faça sentido, isso não significa que o seu pai não possa ter sido o assaltante. "Não creio que meu pais fez isso. Logo não foi ele".

- A falácia da rampa escorregadia:
Quando nos aconselham a não pisar em "rampas escorregadias", o fazem sugerindo que tal comportamento possa nos levar a coisas ruins. A falácia pode residir aqui quando não nos são fornecidas boas razões para supor que o escorregão é inevitável ou, pelo menos, provável. É disso que vem o ditado: "Você dá um dedo e lhe tomam a mão". O fato de você dar R$ 100,00 ao seu familiar desempregado não significa, necessariamente, que ele vá querer te sugar contínua e perigosamente - e se ele tentar fazê-lo, também não significa que você não poderá negar a ajuda. Muitas vezes tal falácia é utilizada para defender-se de medidas que adentram os limites da moralidade.

Muita gente pensou que a liberdade dada aos pais para escolher o sexo do bebê poderia incorrer em modificações ilimitadas no ser humano, chegando ao nível de monstro. É claro que isso pode acontecer, mas a probabilidade não significa que acontecerá - também seria possível que todos despertássemos em certa manhã com o desejo de sair na rua matando uns aos outros, mas tal possibilidade é extremamente remota.
Fonte: Guia Ilustrado Zahar Filosofia, Stephen Law, 2011, pgs 198-211.

- Ataque pessoal:
Ocorre quando ofensas são desferidas contra o indivíduo, como se a sua formação acadêmica (ou a ausência de uma), a sua habilidade linguística, a sua aparência e os seus gostos pessoais interferissem, necessariamente, na validade dos seus argumentos.

- Apelo à autoridade anônima:
"Muitas autoridades sustentam essa hipótese." Quais autoridades?

- Argumentum ad lapidem:
Ocorre quando se afirma que o argumento opositor é absurdo, mas não são apresentados os motivos para tal sugestão.

- Estilo sem substância:
Crer nas palavras de alguém com base em sua aparência e em seu modo de falar.

- Espantalho:
O opositor é convertido num monstro - ele é acusado de defender ideias que nunca sugeriu. Eu, por ser cristão, não necessariamente sou um cavaleiro cruzado ou um inquisidor.

- Egocentrismo ideológico:
Argumentar de forma parcial e tendenciosa. "O evolucionismo é a verdade, pois Darwin disse..."

- Bulverismo:
Trata-se de uma argumentação baseada da pressuposição de que o oponente está errado.

- Falsa proclamação de vitória:
Ocorre quando o debatedor proclama vitória, afirmando que venceu, isso mesmo sem ter conseguido apresentar bons argumentos.

- Generalização precipitada:
Uma pequena amostra leva a uma conclusão tendenciosa.

- Esnobismo cronológico:
Ocorre quando um pensamento de um período anterior é tido como inevitavelmente inferior.

- Plurium interrogationum:
Ocorre quando se exige uma resposta simples para uma questão bastante complexa.

- Nariz de palhaço:
Ocorre quando material irrelevante é inserido no texto para desviar o foco e chegar a uma conclusão diferente.

- Falso axioma:
Trata-se de tornar em verdade inquestionável uma afirmação duvidosa.

- Prova por verbosidade:
O indivíduo intimida os opositores sugerindo diversos textos imensos e vídeos exaustivos, fazendo parecer que domina totalmente o assunto e que está com a razão. Afasta os demais, pois os coloca contra a parede: ou você lê e assiste tudo o que foi sugerido, ou abandona a discussão.

- Repetição nauseante:
A mesma mentira é repetida inúmeras vezes, como se a repetição a tornasse verdadeira.

- Reductio ad Hitlerum:
Invalidar um argumento pela comparação com Hitler ou com o nazismo.

- Definição contraditória:
Definir algo em termos que se contradizem.

- Conclusão irrelevante:
Obter uma conclusão que foge das premissas.

- Petição de princípio:
Defender uma tese partindo do pressuposto de que ela já é válida.

- Distorção de fatos:
Dados são omitidos para mascarar a verdade.

- Invenção de fatos:
São mentiras deliberadas.

- Apelo ao ridículo:
Ridicularizar um argumento como forma de derrubá-lo.

- Apelo à multidão:
Trata-se da tentativa de ganhar um debate apelando a um grande número de pessoas.

- Apelo à vaidade:
Elogia o opositor para desarmá-lo. 

- Apelo ao preconceito:
Associar valores morais a uma pessoa ou coisa para convencer o oponente.

- Apelo à antiguidade:
Afirma que aquilo que é mais antigo é mais confiável.

- Apelo à novidade:
Sugere que aquilo que é mais recente é mais aceitável.

- Apelo à ignorância:
Tentar provar ou negar algo com base na ignorância sobre a sua existência.

- Apelo à emoção:
É nada mais do que recorrer à emoção para validar o argumento.

- Apelo à misericórdia:
Trata-se de um recurso à piedade para que a conclusão seja aceita.

- Apelo ao medo:
Gera-se um sentimento de medo para convencer o oponente.

- Apelo à força:
Faz uso de algum privilégio para suprimir a ideia opositora.

Existem muitas outras formas de falácia para conhecermos e identificarmos. A maioria dos debates não culmina em conclusões aceitáveis, pois as vaidades dos debatedores acabam infestando-os de falácias que, por sua vez, impedem que a verdade sobre os fatos seja encontrada. Qualquer pessoa honesta e desejosa de pensar sobre o mundo de modo coerente, precisa aprender a fugir das falácias.

Natanael Pedro Castoldi

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