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A Precisão do Relato de Lucas

-> Apresentação e Índice
Assustei-me quando, passeando num site ateu, li declarações profundamente forçadas e distorcidas sobre os escritos de Lucas, acusando-o de ter cometido erros terríveis de geografia e história - o ataque foi tão severo, que chegou-se a dizer que ele é o evangelista que mais cometeu erros. Não sei em qual fonte o cético que teceu tais acusações pesquisou, mas tudo o que li sobre o assunto me fez pensar justamente o contrário! Tendo em mente essa situação, decidi ser válido escrever um artigo como resposta.

Lucas escreveu seus textos neotestamentários até por volta de 60 d.C. - a antiguidade do relato se verifica, por exemplo, na alusão ao mais antigo nome do cristianismo, que era inicialmente conhecido como "O Caminho" (Atos 24:22). São duas obras que necessariamente formam uma única narrativa, que vai desde pouco antes do nascimento de Cristo até pouco antes do martírio de Paulo, escritas para uma importante figura de nome "Teófilo". Lucas trabalhou com o Apóstolo Paulo e, portanto, viajou por diversas regiões do Mediterrâneo (seguidamente ele se refere aos eventos fazendo uso do termo "nós"), resultando numa documentação ricamente colorida de dados políticos, geográficos e históricos. Consideremos ainda que ele conheceu membros da Sagrada Família, como Tiago e, possivelmente, Maria, mãe de Jesus, além de ter tido contato com outros apóstolos. Certamente Lucas teve acesso aos escritos de Marcos, que, por sua vez, compilou seu testemunho e o do Apóstolo Pedro; aos escritos de Mateus, que extraiu parte de seu material de Marcos e o restante do próprio testemunho; ao relato de diversas outras testemunhas oculares e a uma diversidade de outras fontes escritas e tradições, algumas singulares e outras que podem ter auxiliado no próprio trabalho de Marcos e Mateus. Lucas empreendeu uma longa viagem pelo Mediterrâneo, habitando na Palestina e tendo conhecido regiões como a Ásia Menor e diversas ilhas. O resultado do meticuloso trabalho realizado por esse inteligentíssimo médico, que, por sinal, apresenta o melhor grego do Novo Testamento, só poderia ser magnífico. Ainda assim, há muitos que apontam supostos erros e incoerências na obra de Lucas.
Leia mais sobre a redação do Evangelho de Lucas na postagem "Os Evangelhos - Autoria, Data e Confiabilidade".

A singularidade de Lucas:
O fato de os escritos de Lucas apresentarem diversos nomes conhecidos e dados geográficos e históricos seria, em caso de fraude, não um fator de confiabilidade, mas a própria base para a aniquilação de seu trabalho. Mas não temos conhecimento de nenhum documento contemporâneo ou dos primeiros séculos que questione algum ponto apresentado pela vasta obra do evangelista.

Lucas é o único evangelista a apresentar nomes de imperadores (Augusto, Tibério e Cláudio - há uma referência indireta ao imperador Nero, Lc 2:1, 3:1; At 11:28, 18:2, 25:11 e 21); Lucas fixa o nascimento de Jesus durante o reinado de Augusto, quando Herodes, o Grande, era rei da Judeia e Quirino governava a Síria (Lc 1:5 e 2:1); Lucas também fala de diversos governadores romanos, como Quirino, Pilatos, Sérgio Paulo, Gálio, Félix e Festo, além de referir-se a alguns dos descendentes de Herodes, o Grande: Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia, os reis vassalos Herodes Agripa I e II, Berenice e Drusila; autoridades judaica também encontram seu lugar nas páginas do trabalho de Lucas: membros destacados da casta sacerdotal judaica, como Anás, Caifás e Ananias, além do grande rabino Gamaliel. O evangelista mostra seu cuidado ao referir-se tão largamente ao contexto secular de sua obra quando emprega corretamente os devidos títulos a cada uma das figuras e localidades por ele apresentadas. Consideremos que diversos títulos utilizados no antigo Império Romano poderiam ser alterados rapidamente - uma província, por exemplo, poderia simplesmente passar de governo senatorial à administração de um representante direto do imperador e isso mudaria o título à ela atribuído. Ora, tal característica do período representou um grande desafio para Lucas e ainda hoje gera certo desconforto, uma vez que muitos críticos não conseguem encontrar nos títulos atribuídos por Lucas uma correspondência secular. Analisemos alguns casos relacionados aos títulos e diversas outras evidências da precisão do evangelista:

- Chipre foi uma província imperial até 22 d.C., quando passou a ser dirigida por um procônsul. Foi um procônsul, Sérgio Paulo, que encontrou Barnabé e Paulo quando estes, em 47 d.C., desembarcaram ali (At 13:7).
- Os governadores da Acaia e da Ásia também eram procônsules. Gálio, procônsul da Acaia (At 18:12), é apresentado como irmão de Sêneca, o grande filósofo e orientador de Nero. Há uma inscrição em Delphos, na Grécia central, na qual se lê que Gálio tornou-se procônsul da Acaia em 52 d.C. por ordem do imperador Cláudio. Como Lucas geralmente se refere às regiões por seus nomes étnicos ou populares, menciona a província da Acaia (At 20:2) utilizando seu nome mais comum, fugindo do habitual ao chamar Gálio de "procônsul da Acaia" e não da "Grécia".
- Em Atos 19:38 há uma estranha referência a "procônsules" na província da Ásia. Normalmente só um procônsul exercia o mandato, mas é sabido que apenas alguns meses antes do tumulto em Éfeso, o procônsul da Ásia, Júlio Silano, fora assassinado por emissários de Agripina, mãe de Nero, que há pouco havia sentado no trono como imperador (54 d.C.). Como ainda não havia chegado o sucessor de Silano, fica fácil de entender o uso do plural generalizante. Além disso, Hélio e Celer, os assassinos de Silano, já tinham assumido a administração da província e começado a desempenhar o papel de procônsules enquanto se esperava um sucessor.
- Em At 19:38 também há menção aos asiarcas, os sacerdotes responsáveis por prestar culto ao imperador e à Roma naquela região.
- O título "Neokoros", ou "guardiã do templo" de Ártemis (At 19:35), dado para Éfeso, realmente era um título de honra, primeiro conferido à pessoas e depois à cidades. Uma inscrição grega realmente descreve Éfeso como "guardiã do templo de Ártemis".
- Uma inscrição grega e latina do ano 103-104 d.C., encontrada no Teatro de Éfeso, registra a oferta do oficial romano Vibius Salutaris, compreendendo uma imagem de prata de Ártemis e outros artefatos, nos remetendo ao interesse da corporação dos ouvires de Éfeso registrado em At 19:24. Os "santuários de prata" eram pequenos nichos que continham uma imagem de Ártemis ladeada por leões - ainda subsistem modelos em terracota.
- Lucas chama os magistrados de Filipos de "pretores" em Atos, figuras acompanhadas de "litores", cujas varas foram usadas para açoitar Paulo e Silas (At 16:12, 20 e 35). Embora o verdadeiro título desses magistrados seja "duúnviru", sabemos que eles preferiam o título mais eloquente de "pretor" - o mesmo que ocorreu com Cápua, caso comentado por Cícero: "Embora nas demais colônias sejam chamados de duúnviros, esses homens queriam ser chamados de pretores."
- O título "poliarca", dado aos magistrados superiores de Tessalônica (At 17:6, 9), não ocorre na literatura clássica conhecida atualmente, porém é encontrado em inscrições como um título atribuído aos magistrados em cidades macedônias, incluído Tessalônica.
- Sabe-se que no início da Era Cristã, a corte do Areópago, em Atenas, ainda tinha poderes em relação aos oradores que desejassem falar em locais públicos, o que explica muito bem o seu interesse em ouvir Paulo (At 17:19-22).
- A autoridade mais elevada de Malta é referida em Atos como "o homem principal da ilha" (At 28:7). Tal título foi confirmado tanto por inscrições gregas quanto latinas.
- Herodes Antipas, administrados da Galileia no tempo de Cristo, mesmo tendo sido considerado rei pelos seus súditos (Mt 14:9 e Mc 6:14), nunca foi nomeado como tal pelo imperador, tendo que contentar-se com o título de "tetrarca" - é por isso que Lucas nunca o chama de rei, somente de tetrarca (Lc 3:1 e 19).
- É alegado que Lucas errou ao afirmar que Lisânias era tetrarca de Abilene no 15º ano de Tibério (27-28 d.C.), já que o único Lisânias de Abilene da história antiga tinha o título de rei e foi morto por Marco Antônio em 34 a.C. Há, porém, uma inscrição posterior sobre um Lisânias que tinha o título de tetrarca, encontrada na dedicação de um templo: "para a salvação dos senhores imperiais e toda sua casa, da parte de Ninfeu, liberto de Lisânias, o tetrarca". A referência aos "senhores imperiais" era atribuída ao imperador Tibério e sua mãe, Lívia, viúva de Augusto, fazendo a inscrição situar-se entre 14 d.C. (ano da posse de Tibério) e 29 d.C. (ano da morte de Lívia).
- A data em que o procurador Félix foi substituído por Festo (At 24:37) tem sido motivo de debate, porém há evidências de que uma nova cunhagem de moedas foi introduzida na Judeia no quinto ano do reinado de Nero (59 d.C.), e a ocasião mais natural para isso seria a troca de procurador.

O Censo de Quirino:
- A alusão de Lucas ao governador da Síria nos tempos do nascimento de Cristo (antes de 4 a.C.), Quirino, tem sido vista com desconfiança por muitos estudiosos (Lc 2:2). A desconfiança brota do conhecimento de que Quirino tornou-se legado imperial só em 6 d.C., quando realizou o censo que provocou uma rebelião chefiada por Judas, o Galileu (At 6:7) - atualmente, porém, há grande aceitação de que um censo prévio, conforme relata Lc 2:1, pode ter sido realizado no reinado de Herodes, o Grande (1); de que ele pode ter implicado no retorno de cada indivíduo à terra natal ou centro regional de residência da família (2); de que pode ter sido um censo geral que abrangeu todos os cantos do Império (3) e de que pode ter acontecido em mandato anterior governamental de Quirino, da Síria (4):

1 - Josefo nos informa que nos últimos tempos do reinado de Herodes, o imperador Augusto começou a tratá-lo mais como súdito do que como um amigo e de que toda a Judeia fez um juramento de lealdade a Augusto. O advento de um censo num reino sob proteção não é algo sem paralelo - no reinado de Tibério um recenseamento foi imposto ao reino de Antíoco, na Ásia Menor oriental.
2 - A obrigação de cada pessoa de registrar-se no domicílio de origem encontra seu paralelo num edito do ano 104 a.C., em que Víbio Máximo, prefeito romano do Egito, declara: "Estando próximo o recenseamento de famílias, temos por bem que notificar a todos quantos, por qualquer razão, se encontram distantes da divisão administrativa em que se enquadram que retornem à região a fim de dar cumprimento à costumeira ordenança do censo e continuar na posse de sua própria terra."
3 - Há fortes evidências da realização de recenseamentos em várias partes do Império Romano entre os anos 11 e 8 a.C.
4 - Há considerável evidência de que, quando Quirino assumiu o governo da Síria em 6 a.C., essa era a segunda vez que servia como legado imperial - a primeira se deu entre 12 e 6 a.C. Para William Ramsay, Quirino foi investido como legado adicional e extraordinário para fins militares, outros estudiosos sugerem que seu primeiro legado imperial se deu na Galácia, não na Síria, e há os que preferem ler, conforme Tertuliano, "Saturnino" no lugar em "Quirino", em Lc 2:2.

Outras possibilidades para o Censo de Quirino:
Lucas poderia ter conhecimento de um censo anterior ao realizado em 6 d.C., também supervisionado por Quirino; o documento "Lapis tiburtinus" indica que Quirino foi governador da Síria duas vezes, podendo ter feito dois censos; alguns sugerem que a tradução correta de Lc 2:2 deva ser: "Este censo era anterior àquele feito quando Quirino era governador".
Fontes: Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, pgs 105-115; Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 1667.

Outras evidências da precisão ocular de Lucas:
- A travessia natural entre portos citados corretamente (At 13:4-5).
- O porto correto, Perge, com o destino correto de quem vinha de navio de Chipre (13:13).
- A correta localização da Licaônia (14:6).
- A declinação incomum mas correta do nome "Listra" (14:6).
- O correto registro da língua falada em Listra: licaônica (14:11).
- O comentário sobre dois deuses conhecidos por serem muito próximos - Zeus e Hermes (14:12).
- O porto correto, Atália, que os viajantes usavam no retorno (14:25).
- Uma ordem correta de chegada, a Derbe e depois a Listra, para quem vem da Cilícia (15:41 e 16:1).
- A Samotrácia, um marco conhecido pelos marinheiros (16:11).
- Filipos como colônia romana (16:12).
- A localização do rio Gangites nas proximidades de Filipos (16:13).
- Tiatira como centro de tingimento (16:14).
- A localização de Anfípolis e Apolônia, onde os viajantes costumavam ficar noites seguidas (17:1).
- A sinagoga de Tessalônica (17:1).
- "Politarches", o termo correto para os magistrados do lugar (17:6).
- A consideração de que a viagem marítima era a melhor forma de chegar a Atenas, favorecida pelos ventos do leste no verão (17:14-15).
- A sinagoga de Atenas (17:17).
- A descrição dos debates filosóficos na Ágora (17:17).
- Uso da palavra correta na linguagem ateniense para Paulo ('spermologos", 17:18), assim como para a corte ("Areios pagos", 17:19).
- O altar ao "deus desconhecido" (17:23).
- O filósofos gregos negavam a ressurreição do corpo (17:32).
- "Areopagita" - título correto para um membro da corte (17:34).
- O termo "bema" (tribunal), superior ao "forum" de Corinto (18:16).
- O nome Tirano, que aparece em inscrições do século I em Éfeso (19:9).
- O teatro de Éfeso como local de grandes encontros (19:29).
- "Grammateus" como título para o principal magistrado de Éfeso (19:35).
- A assembléia "regular", cuja frase precisa é atestada em outros lugares (19:39).
- "Beroiaios", uma designação étnica precisa (20:4).
- "Asianos", uma designação étnica precisa (20:4).
- A importância estratégica de Trôade (20:7).
- O período da viagem costeira naquela região (20:13).
- O caminho correto passando pelo mar aberto, ao sul de Chipre, auxiliado pelos fortes ventos noroeste (21:3).
- A distância correta entre essas cidades (21:8).
- A maneira comum de se obter a cidadania romana (22:28).
- Ananias como sumo sacerdote naquela época (23:2).
- Félix como governador daquela época (23:34).
- O ponto de parada no caminho para Cesaréia (23:31).
- A jurisdição da Cilícia (23:34).
- O direito de apelação dado dos cidadãos romanos (25:11).
- A melhor rota marítima da época (27:5).
- O porto ideal para encontrar um navio em viagem para a Itália (27:5-6).
- A lenta passagem para Cnido, com seus típicos ventos noroeste (27:7).
- A localização dos Bons Portos e o fato de lá não ser um bom lugar (27:8 e 12).
- A tendência de o vento sul transformar-se repentinamente num violento noroeste, fenômeno chamado de "gregale" (27:13).
- As manobras adequadas para a segurança do navio na condição de tempestade (27:16).
- 14ª noite - cálculo notável, resultante de estimativas e probabilidades, confirmada pela avaliação de navegantes experientes do Mediterrâneo (27:27).
- "Bosilantes" - termo preciso para captar sons e calcular a profundidade correta do mar perto de Malta (27:28).
- Régio como um refúgio para aguardar o vento sul, possibilitando o prosseguir da viagem pelo estreito (28:13).
- As condições de aprisionamento (28:30-31).

Minha fonte apresenta 84 evidências do testemunho ocular de Lucas - utilizei apenas algumas delas.

Diante da farta evidência, o historiador romano A. N. Sherwin-White comenta: "Quanto ao livro de Atos, a confirmação de sua historicidade é impressionante [...]. Qualquer tentativa de rejeitar sua historicidade básica só pode ser considerada absurda."
Fonte: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, 261-265.

O famoso arqueólogo William M. Ramsay, cético que decidiu empreender uma viagem pelo mundo registrado por Lucas para provar que seu relato era errôneo, se obrigou a mudar de ideia quando, feita a viagem, percebeu que o trabalho do antigo historiador foi quase perfeito:

"Comecei tendo um pensamento desfavorável a ele [o livro de Atos] [...]. Eu não tinha o propósito de investigar o assunto em detalhes. Contudo, mais recentemente, vi-me muitas vezes sendo levado a ter contato com o livro de Atos vendo-o como uma autoridade em topografia, antiguidade e sociedade da Ásia Menor. Fui gradualmente percebendo que, em vários detalhes, a narrativa mostrava verdades maravilhosas."

"A história de Lucas é insuperável no que diz respeito à sua fidedignidade."

"Lucas é um historiador de primeira grandeza; não apenas suas afirmações são de fato fidedignas; revela-se possuído de verdadeiro senso histórico; fixa a mente na ideia e no plano que regem a evolução da história e regulam a escala de sua consideração à importância de cada fato. Focaliza nos eventos importantes e críticos e lhes ressalta a verdadeira natureza em maior extensão, enquanto que apenas considera ligeiramente ou omite inteiramente muito do que não se reveste de valor para seu propósito. Em síntese, este autor deveria ser colocado entre os maiores historiadores."
Fontes: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, 266; Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, pgs 118-119.

Natanael Pedro Castoldi

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