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Sobre Marcos 16:9-20, João 8:11 e Romanos 16

Há algum tempo um leitor do blog, Henrique Lima, me fez a seguinte pergunta: "Olá Natanael, me diga Marcos 16,9-20 e João 8,11 são falsos? Me deparei com essa questão a um tempo atrás, com alegações de que essas passagens não existe nos pergaminhos antigos, e que em especialmente MC, diz que existem diversos finais diferentes. obg :)". De fato, tal questionamento tem me perseguido desde que cursei teologia em 2011, mas, felizmente, como em diversas outras questões, existem respostas bastante satisfatórias - como respostas satisfatórias consideramos não somente as que provam que "tais passagens pertencem aos manuscritos originais", mas as que afirmam que mesmo que não pertençam, elas em nada contradizem o relato bíblico e que, por não serem teologicamente singulares e importantes, não importa tanto a possibilidade de não serem genuínas. Trabalhemos melhor o assunto.

Em primeiro lugar, consideremos o fato verdadeiramente inquestionável de que são pouquíssimas as passagens bíblicas de procedência questionável - uma análise cuidadosa dos manuscritos, considerando seu número e idade, há de anular o questionamento que reside sobre quase qualquer versículo. Sobram apenas algumas passagens questionáveis do texto bíblico atual que resistem com relativo vigor aos mais apurados estudos - em especial, consideremos Marcos 19:9-20, João 8:11 e Romanos 16. Sobre a veracidade do restante do texto escriturístico, leia a postagem "Posso Confiar no Texto Bíblico Atual?". Antes de tratar especificamente de cada passagem, consideremos os seguintes pontos: elas podem ser genuínas, mas, mesmo se não forem, não contradizem o restante do texto bíblico e não acrescentam nada de novo às Escrituras, não sendo nem inconvenientes e nem consideravelmente necessárias, portanto, não devemos nos preocupar tanto com elas.

- Marcos 16:9-20: "Evidências manuscritas indicam que este Evangelho provavelmente não incluía originalmente nenhum dos versículos 9-20. Ou Marcos terminava aqui o seu Evangelho, nunca tendo escrito nenhum final, ou seu final original foi perdido. A sintaxe em grego do versículo 8 e o fato de que todos os outros Evangelhos incluem o anúncio aos apóstolos e as manifestações posteriores à ressurreição levam alguns acadêmicos a concluir que o final original de Marcos foi perdido.

Se o Evangelho terminava no versículo 8, Marcos tencionava que seus leitores supusessem que as mulheres fizeram o que lhes foi dito. O seu silêncio temeroso não sugere o seu fracasso em transmitir as palavras do anjo aos discípulos. A leitura propicia a imagem mental do Jesus ressuscitado, seguindo rumo à Galileia e as mulheres e os discípulos fazendo a mesma coisa, com suas mentes cheias da inevitável e maravilhosa conclusão: 'Este homem é realmente o filho de Deus!' Muitas vezes antes, a reação à obra de Jesus fora temor e fé (4:41; 5:15, 33; 6:50; 9:6, 32; 10:32). Além disso, a brusquidão de tal conclusão corresponde à brusquidão do princípio de Marcos, em comparação com os outros Evangelhos."
Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pgs 1585-1586.

É claro que trechos como o versículo 18, sobre "pegar nas serpentes ou tomar veneno sem receber nenhum dano" causaram problemas ao longo da História da Igreja, como ocorreu com em 1910 com George Went Hensley, que tentou Deus ao começar a manipular serpentes venenosas, isso baseado no versículo mencionado - para muitos, portanto, tal passagem apresenta uma mensagem errônea. Ora, não é para isso que tal versículo existe! Consideremos uma de suas aplicações na ocorrência em Malta, quando uma serpente picou a mão do Apóstolo Paulo e este não morreu (At 28:1-6), ou, com referência à ingestão de veneno, vislumbremos a tradição que relata as tentativas fracassadas dos inimigos da fé de tentar matar o Apóstolo João envenenado - Loucos por Jesus, Lúcio Barreto Jr., Central Gospel, 2012, pgs 29-30. Tais evidências indicam que tal passagem está correta em suas afirmações, devendo ser entendida com sabedoria: parece-me que se aplicava exclusivamente aos apóstolos que a ouviram, embora seja plenamente possível que Deus proteja seus discípulos, se for da Sua vontade, das investidas da natureza ou dos perseguidores dos cristãos.

Segundo a Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 1661, diversos finais para o Evangelho de Marcos foram encontrados em vários manuscritos gregos, sendo o final mais comum (em número de manuscritos e traduções antigas) aquele que temos em nossas bíblias atuais (16:9-20). O primeiro documento grego que temos com tal final é datado do Século V, mas existem evidências de que os Pais da Igreja já o conheciam no Século II - porém, muitos estudiosos percebem que o vocabulário e os temas do final tradicional são incompatíveis com o restante do Evangelho. Ora, nos dois manuscritos gregos mais antigos que temos, além de em várias outras versões antigas, o documento termina em 16:8 - Clemente de Alexandria e Orígenes aparentemente não conheciam nenhum final do Evangelho que fosse além do versículo 8, além disso, Eusébio e Jerônimo afirmavam que quase todos os manuscritos que eles conheciam terminavam no oitavo versículo.

Segundo a consideração mais comum entre os estudiosos, o versículo 8 corresponde ao término tradicional de Marcos, havendo acréscimos no Século II, depois que o Evangelho de Marcos começou a ser lido com os demais Evangelhos - em comparação com os outros, Marcos parece carecer de uma conclusão satisfatória. Em concordância com a Bíblia de Estudo Defesa da Fé, o final brusco de Marcos parece uma conclusão apropriada para o Evangelho em questão, já que um dos seus temas é o temor causado pela obra poderosa de Deus realizada em e por meio de Cristo Jesus.

Da Bíblia de Estudo Plenitude, SBB, 2002, pg 1025: "Entretanto, os escritores cristãos do Século II, como Justino Mártir, Irineu e Taciano, testemunham a inclusão desses versículos, e as traduções mais recentes, como a latina, a siríaca e a copta, os incluem. De qualquer maneira, a passagem reflete a experiência e a expectativa da Igreja Primitiva em relação à prática de dos carismáticos, e a questão de sua autenticidade deve permanecer em aberto."

Charles C. Ryrie, nA Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Mundo Cristão, 2007, pg 978, defende a tese de que, caso o final de Marcos não pertença ao original, o seu final abruto se deveria, provavelmente, à perda de parte da redação do evangelista - é por isso que ele orienta certa cautela na leitura desse texto, tendo como imprudente a construção de qualquer doutrina por sobre ele, especialmente a apresentada nos versículos 16-18. Ryrie lembra que, embora o final de Marcos não apareça nos dois dos melhores manuscritos antigos do NT, ele está presente em um grande número de outros manuscritos e versões.

- João 8:11: "7:53-8:11: Este evento não se encontra nos melhores e mais antigos manuscritos. No entanto, é amplamente considerado como uma história verdadeira a respeito de Jesus, que foi preservada pela tradição oral e acabou sendo acrescentada por escribas bem intencionados." Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pgs 1676-1677.

"7:53-8:11: Muitos estudiosos concordam em que essa seção não pertence ao Evangelho de João nesse lugar. A maioria dos antigos manuscritos a omite ou a marca com asteriscos para indicar dúvida. Alguns poucos manuscritos a colocam no final do evangelho, e outros a colocam após Lucas 21:38. Ao mesmo tempo ela é atestada desde tempos antigos, e não há razão para supor que não represente uma tradição genuína." Fonte: Comentário Bíblico Vida Nova, D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer e G. J. Wenham, Vida Nova, 2012, pg 1566.

A Bíblia de Estudo Plenitude, SBB, 2002, pg 1086, afirma que, mesmo estando em discussão se tal passagem pertenceu ou não ao documento original, existem poucas dúvidas sobre se o incidente realmente aconteceu.

- Romanos 16: os versículos aqui questionados são, especialmente, os que vão do 24 ao 27. A questão é que a doxologia (25-27) é colocada diversamente na tradição textual, no fim do capítulo 14, no fim do capítulo 15, no fim do capítulo 16, e também ambas no fim do capítulo 14 e no fim do 16; há, ainda, o fato de que a "graça" aparece duas vezes na grande maioria dos manuscritos, como 16:20b e 16:24, mas é omitida por algumas autoridades antigas no primeiro lugar e por outras, algumas muito importantes, no segundo; além disso, consideram-se problemáticas as numerosas saudações a pessoas particulares no capítulo 16, uma vez que Paulo nunca havia visitado tal igreja. Analisemos os fatos:

Alguns sugerem que Paulo compôs originalmente de 1:1-14:23, omitindo também 1:7 e 1:15, que são referências à Igreja de Roma, o que é uma alternativa implausível, pois 1:8-13 só são compatíveis com uma carta tencionada para uma igreja particular ou, pelo menos, para um grupo particular de igrejas. Além disso, uma conclusão em 14:23 é impensável, pois não satisfaz de modo algum as exigências da carta.

Outros sugerem que Paulo tenha escrito original de 1:1-15:33, pois o capítulo 16 combina mais com a Igreja de Éfeso, o que também é uma alternativa implausível: não é convincente que o 16º capítulo seja mais compatível com a Igreja de Éfeso. As outras cartas, o que inclui a epístola à Igreja de Éfeso, mostram que Paulo preferia não saudar indivíduos específicos nas cartas endereçadas para igrejas conhecidas e nas quais ele era amigo de quase todos, o que não é o caso da Igreja de Roma, que Paulo não conhecia pessoalmente - nesse caso, enviar saudações para lá seria uma forma de estabelecer contato, demonstrar que se identificava com o povo local e que era conhecido por gente de lá. Mais informações sobre isso, leia o trecho sobre a Carta aos Romanos na postagem "A Magnífica História da Vida e da Obra de Paulo".

Fonte: Comentário de Romanos Versículo por Versículo, C. E. B. Cranfield, Vida Nova, 2005, pgs 11-13.
"De fato, há um manuscrito que coloca a doxologia no final do cp. 15, mas o mesmo manuscrito inclui o texto de 16:1-23. Não possuímos um só manuscrito que contenha o texto no formato de 15 capítulos (...). Há evidência do formato em 14 capítulos, mas é muito improvável que Paulo tenha escrito tal texto, uma vez que este interrompe Paulo exatamente no meio de seu argumento sobre os 'fortes' e os 'fracos' na fé (14:1-15:13). Os primeiros cristãos devem ter sido os responsáveis por omitir os dois últimos capítulos da carta, talvez para que ela tivesse um apelo mais universal (...). Porém, o mais provável, como sugere Orígenes, foi que Marcião (um teólogo do Século II que não gostava das influências do AT e dos elementos judaicos no cristianismo) tenha removido esses capítulos."
Fonte: Comentário Bíblico Vida Nova, D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer e G. J. Wenham, Vida Nova, 2012, pg 1679.

Considerando as respostas dadas acima, que são apenas um resumo selecionado dos estudos mais profundos, podemos conceber que o texto bíblico que hoje temos é plenamente genuíno e unânime em termos de redação e/ou em termos de teologia. Até mesmo as passagens que parecem ser inclusões tardias, são validadas por ocorrências históricas. Há fortes razões para crer que os acréscimos, como o de Marcos e o de João, encontrem seus fundamentos em tradições orais muito antigas e verazes e, como é o caso de Marcos, tenham resultado de uma sincera leitura e interpretação dos documentos neotestamentários que o escriba tinha diante dos olhos. No mais, são pouquíssimos os trechos questionáveis, se os compararmos com as dimensões totais do relato bíblico e, além de serem escassos, esses textos não entram em contradição com nenhum ensinamento da Palavra e a sua ausência não acarretaria na perda de conceitos teológicos. Termino esse artigo com uma pequena história que li na Bíblia de Estudo das Profecias, John C. Hagee, Atos, 2005, pg 1266:

 "Anos atrás, um pastor se sentou no carro-restaurante de um trem noturno que ia de Hudson River para a cidade de Nova Iorque. O passageiro que jantava na mesa do ministro era um ateu, que notou a gola clerical do companheiro de mesa e pensou em se divertir um pouco.
'Vejo que o senhor é um pastor', ele começou.
'Sim', disse o pastor, levantando os olhos do prato.
O ateu preparou a isca. 'Suponho que o senhor deve acreditar na Bíblia.'
'Oh, sim, eu creio na Palavra de Deus', respondeu o ministro.
'Mas não há coisas na Bíblia que não podemos explicar?', o ateu desafiou.
'Sim', o pregador admitiu prontamente, 'há lugares na Bíblia muito difíceis de entender'.
'Bem, o que você faz com elas?', pressionou o ateu, sentindo que estava conseguindo colocar o pastor contra a parede.
O pastor continuou o seu jantar, que era um saboroso peixe cheio de espinha. Finalmente, ele olhou para o ateu e respondeu: 'Senhor, faço a mesma coisa que faço quando como esse peixe. Quando encontro uma espinha, separo-a no lado do prato e aproveito a minha refeição. Somente um tolo engasga com as espinhas e deixa o saboroso peixe intocável no prato'."

Natanael Pedro Castoldi

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