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A Magnífica História da Vida e da Obra de Paulo

O Apóstolo Paulo foi, sem dúvida, um dos homens mais importantes da história e, para a Igreja, a figura de maior destaque depois do próprio Cristo. A certeza da sua existência, a sua história singular, as suas experiências com Deus e a sua produção literária o tornam especialmente interessante. Vamos, portanto, falar um pouco sobre esse grande evangelista e, em seguida, verificar a autoria e a data de suas obras neotestamentárias.

Sobre o que você lerá: 1 - O Apóstolo dos Gentios; 2 - Cronologia das Missões e das Cartas de Paulo; 3 - As Epístolas Paulinas.

O texto é grande, mas você pode dividir a leitura em duas ou três partes, conforme a configuração do trabalho.

1 - O Apóstolo dos Gentios:
Nascido em Tarso como cidadão romano, Paulo era filho da tribo de Benjamin e zeloso membro do partido dos fariseus. Segundo Jerônimo, os ancestrais de Paulo eram galileus que migraram para Tarso que, por sua vez, era uma importante cidade romana - um centro cultural, repleto de eruditos. Como uma criança judia de Tarso, certamente ele aprendeu as tradições do seu povo na sinagoga local e se acostumou com o Antigo Testamento em grego, a Septuaginta. Nesse rico ambiente urbano, é compreensível que Paulo tenha se familiarizado, durante a juventude, com diversas filosofias gregas e cultos religiosos.

Como geralmente acontecia, Paulo deve ter começado a estudar a Torá aos seis anos de idade, tendo praticamente todo o Pentateuco decorado aos dez e começado a seguir um rabino entre os catorze e quinze anos.

Outros estudiosos sugerem que textos como os de At 22:3 e 26:4 indicam que Paulo tenha tido a primeira infância já em Jerusalém, criado nos "joelhos de sua mãe" nessa cidade e, posteriormente, educado aos pés do famoso rabino Gamaliel. Foi ainda jovem que Paulo recebeu autoridade oficial para dirigir a perseguição contra os cristãos, na qualidade de membro de uma sinagoga ou do Sinédrio. Observando a posição social que Paulo adquirira desde cedo, é fácil imaginar que a sua família tinha alguns recursos, pertencendo a uma posição social proeminente.

Gamaliel foi um dos maiores mestres do judaísmo. O avô de Gamaliel, Hillel, fundou a mais liberal das duas escolas dos fariseus, e Gamaliel foi o primeiro dos sete líderes da escola de Hillel a ser honrado com o título de "Rabban" ("nosso Rabi"). Ele era um homem de grande inteligência, tendo estudado não somente a lei bíblica, mas também a literatura grega. Paulo, tendo sido aluno de Gamaliel, recebera, portanto, a melhor educação judaica possível na época.

A primeira aparição de Paulo em Atos o mostra como um simples tomador de conta das vestes daqueles judeus que apedrejavam Estêvão, mas é visível o seu crescimento na comunidade judaica, uma vez que ele logo assumiu a responsabilidade por perseguir cristãos. Ao perceber que a expulsão dos cristãos helenistas de Jerusalém tinha espalhado ainda mais essa "seita" pela Palestina, aventurou-se na perseguição noutras terras. Perseguir em Cesaréia não seria possível, uma vez que se trata de uma cidade sob jurisdição romana e Samaria não seria o lugar adequado para um rabi judeu se arriscar, mas Damasco, uma cidade independente e repleta de judeus, parecia uma opção plausível. Foi no caminho para essa cidade que um dos eventos mais significativos da História da Igreja ocorreu.

Mesmo que Paulo não tenha conhecido Jesus nos tempos de Seu ministério terreno, seus parentes crentes e sua experiência no martírio de Estêvão (Rm 16:7 e At 8:1) devem ter produzido algum impacto na sua vida. Fica claro que, mesmo antes da conversão, Paulo já conhecia muito sobre os pensamentos cristãos - e até pode ser que tenha se interessado pelo tipo de interpretação dada ao Antigo Testamento que os cristãos helenistas, como Estêvão, pregavam. A experiência de Paulo com o Cristo Ressurreto, no caminho para Damasco, mostra-se de modo bastante sóbrio e real no relato de Lucas, estimulando uma virada radical na vida do outrora caçador de cristãos: a experiência com Jesus e a cegueira temporária, fizeram com que Paulo tomasse uma decisão por Cristo e lutasse pelo Evangelho com a mesma força e sinceridade com que lutara contra ele. Tal reviravolta só pode ser fruto de um evento absolutamente real, que ocupou os sentidos físicos e espirituais do Apóstolo, sensibilizando-o profundamente e intensificando algo que já havia sido semeado em sua mente.

Depois de convertido e batizado, Paulo ficou três na Arábia e em Damasco, fugindo para Jerusalém por pressão dos judeus. Em Jerusalém, o apóstolo trabalhou algumas semanas, até que a pressão dos judeus locais o fez retornar para sua cidade natal, onde ficou silenciado por cerca de 10 anos. Sendo lembrado por Barnabé, o apóstolo foi finalmente chamado para iniciar seu ministério no mundo getílico. Após prósperos trabalhos entre gentios de toda a região mediterrânica do Oriente do Império, padecendo diversas perseguições e prisões, Paulo foi morto em Roma, provavelmente depois de iniciada a perseguição contra os cristãos que Nero instigou ao culpá-los pelo incêndio de Roma, ocorrido em 64 d.C.

Paulo, portanto, era:
- Membro de uma família valorizada e com recursos.
- Cidadão romano.
- Familiarizado com o pensamento grego.
- Extremamente bem instruído no pensamento judaico e do Antigo Testamento.
- Conhecedor, mesmo antes de convertido, de algumas bases do cristianismo.
- Membro ativo de uma sinagoga ou do próprio Sinédrio.
Paulo certamente  era um dos judeus mais capacitados do seu período, considerando sua capacidade intelectual e posição social, política e religiosa, para criar uma ponte sólida de diálogo entre Roma e a longínqua Israel. Levando em conta a evidente preocupação da sua família com o seu aprofundamento intelectual e aquisição de status tanto no mundo judaico quanto romano, além de todo o claro apoio que ele recebera da comunidade judaica, inclusive de algumas das figuras mais proeminentes do judaísmo de sua época, não é difícil considerá-lo como alguém propositalmente criado para servir como uma espécie de "messias" judeu, como o libertador político que Israel "não havia encontrado" em sua última e dramática experiência messiânica com Jesus Cristo. A leitura do livro de Atos e das epístolas de Paulo aponta para sua fama e prestígio entre os judeus no período anterior ao de sua conversão, no qual era conhecido pelo nome pelos cristãos que perseguia - tal expectativa judaica com Paulo fica clara quando ele se converte ao cristianismo: não se tratava de um convertido qualquer, uma vez que uma ira generalizada das autoridades judaicas palestinas imediatamente se levantou contra ele, impedindo-o de permanecer em Damasco e em Jerusalém.

A experiência de Paulo com Deus:
Paulo tinha uma ligação incrível com Cristo, não somente por ter visto o Messias Ressurreto na ida para Damasco, mas por toda uma série de experiências que tivera ao longo de sua vida - ele não somente ouvia Deus claramente, mas, de algum modo, o via.

- Após a conversão e o batismo, há teólogos que sugerem que os três anos de Paulo em Damasco e na Arábia tenham correspondido ao tempo de três anos com Cristo que os demais apóstolos haviam experimentado nos anos do ministério terreno de Jesus - Gálatas 1:17-18. Considerando tal interpretação, Paulo deve ter tido constantes visões do Messias, ouvindo-O e aprendendo pessoalmente com Ele, no silêncio e na solitude.
- Outros estudiosos, sugerem, ainda, que os dez que Paulo passou silenciado em sua cidade natal, além do período dos três anos em Damasco e na Arábia, tenham se resumido numa preparação pessoal com Cristo para o seu vindouro ministério.
- A intimidade de Paulo com Deus foi tão forte que ele chegou a ter visões do "Terceiro Céu", que é "onde habita o próprio Deus" (2 Coríntios 12:1-6). O ocorrido se deu por volta de 42 d.C., antes da sua Primeira Viagem Missionária (tempo no qual estava "sendo pessoalmente ensinado por Cristo"), quando apóstolo foi arrebatado ao Terceiro Céu de modo tão real que não soube nem dizer se tinha ido com ou sem o corpo. Na presença do Criador, ele recebeu revelações profundas, mas entendeu que o seu ministério não envolvia a divulgação das mesmas, não sendo ainda o tempo oportuno - a tradição mais comum afirma que ele fala em terceira pessoa para evitar qualquer glória pessoal. Há quem diga que revelações semelhantes foram dadas ao Apóstolo João, que escreveu Apocalipse algumas décadas depois da morte de Paulo.
- Além disso, Paulo falava a "língua dos anjos", isso com um equilíbrio e coerência elevados, conforme lemos em 1 Coríntios 14. Consideremos, ainda, as diversas passagens bíblicas nas quais Paulo aparece realizando feitos sobrenaturais - Atos 19.

Foi Paulo o fundador do cristianismo? Ele era antissemita?
Com base na quantidade de cartas, no teor e na teologia paulina, muitos críticos alegam que foi Paulo, e não Cristo, o iniciador do cristianismo. Será que isso procede? Vejamos:

Segundo John Drane, "em muitos aspectos o ensinamento de Paulo sobre o lugar da Lei e da Aliança veterotestamentárias na vida cristã é apenas uma extensão lógica da doutrina daqueles judeus helenistas que eram cristãos antes dele." Como cristão, Paulo não tinha grande interesse nos aspectos rituais e cerimoniais da Lei do Antigo Testamento - dada a sua formação farisaica, deixava-se influenciar muito mais pela visão da Lei como fonte de moralidade. Não podemos deixar de notar as semelhanças entre a pregação de Estêvão, em Atos, com o teor da carta de Gálatas, com relação ao aspecto transitório da Lei.

John Drane, sobre a ligação da teologia paulina com o Antigo Testamento, afirma: "Se examinarmos mais de perto do Novo Testamento, quer nos escritos do próprio Paulo quer nas histórias dos Atos, logo se torna claro que Paulo era muito mais cônscio de sua origem e formação judaica do que muitos estudiosos gostariam de admitir. Em diversos pontos ele não poupa esforços para estabelecer uma espécie de continuidade entre, de um lado, suas próprias igreja gentias e, do outro, a primitiva igreja judaica, ou até mesmo o próprio judaísmo". É notável que quando Paulo define a fé cristã, comumente o faz relacionando-a com o judaísmo - ele chega a argumentar que o homem tinha de se tornar membro da nação da aliança cujas origens históricas se encontravam nas histórias veterotestamentárias da vocação de Abraão. Além das semelhanças de discurso com a pregação de Estêvão e os profetas do Antigo Testamento, evidentes em passagens como Romanos 2:29, é possível encontrar semelhanças com o discurso doutros apóstolos, como os de Pedro, evidentes em passagens como Gálatas 6:16.

Quanto aos discursos de Cristo e de Paulo, as diferenças residem nos tipos de ministério e nos contextos históricos e culturais de cada um. Jesus atuou no âmbito do judaísmo palestino, enquanto Paulo trabalhou principalmente entre os pagãos - ainda assim, as diferenças são menores do que as semelhanças entre os seus discursos. Jesus e Paulo concordavam sobre o caráter messiânico de Cristo - fica evidente que Jesus se via como o Messias especialmente nos acontecimentos da sua última semana de vida, além das muitas atitudes que tomou nas quais atribuía para si prerrogativas divinas, como o ato de prescrever a Lei, como Deus fizera no Sinai (Mt 7:24-29), e o de perdoar pecados (Mt 9:2). Paulo, como ex-fariseu, jamais usaria o termo "Christos", que é a forma grega de "Messias", fora dos padrões de pensamento judaico. Além disso, há absoluta concordância de discurso sobre as características da vida do Reino, como a centralidade do amor (1 Co 13; Gl 5:6 e 14) e o amor pelos inimigos (Rm 12:14-21); o papel servil do cristão (1 Co 1:26-31); o papel da Cruz na história da salvação (1 Co 1:23; Gl 6:14; Fp 2:5-11). Todas as bases fundamentais da teologia cristã podem ser encontradas em Cristo e Paulo concorda com todas elas, interpretando-as e aplicando-as em contextos diferenciados.
Fontes: O Novo Dicionário da Bíblia, J. D. Douglas, Vida Nova, 2006, pgs 1008-1009; A Vida na Igreja Primitiva, John Drane, Edições Paulinas, 1985, pgs 35-44; Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pgs 1819, 1893 e 1899; A Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Mundo Cristão, Charles C. Ryrie, 2007, pg 1138; Bíblia de Estudo Plenitude, SBB, 2011, pg 1215; Os Cristãos, Tim Dowley, Martins Fontes, 2009, pg 13.

2 - Cronologia das Missões e das Cartas de Paulo:

- As Viagens:
A Primeira Viagem Missionária de Paulo, 46-48 d.C., feita com Barnabé e Marcos.
A Segunda Viagem Missionária de Paulo, 49-52 d.C., feita com Silas.
A Terceira Viagem Missionária de Paulo, 53-57 d.C.
A Viagem de Paulo a Roma, 59-62 d.C.
Referências bíblicas: Primeira e Segunda Viagens - Atos 13-14 e 15:39-18:22; Terceira e Quarta Viagens - Atos 18:23-21 e 27-28:16.
Fontes: mapas das Sociedades Bíblicas Unidas, 2002, pesquisados na internet, porém encontrados na Bíblia de Estudo Plenitude, SBB, 2002; datas e referências bíblicas retiradas da Bíblia de Estudo das Profecias, Atos, 2005.

- As Cartas:
Gálatas, 49 d.C.; 1 e 2 Tessalonicenses, 51 d.C.; 1 Coríntios, 55 d.C.; 2 Coríntios, 56 d.C.; Romanos, 57-58 d.C.; Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom, 61 d.C.; 1 Timóteo e Tito, 63-66 d.C.; 2 Timóteo, 67 d.C.
Fonte: datações retiradas da Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Charles C. Ryrie, Mundo Cristão, 2007.

3 - As Epístolas Paulinas:
Estão dispostas segundo a ordem do Novo Testamento. Uma leitura cronológica pode ser feita tomando como base as datações sugeridas para cada carta.

- Epístola do Apóstolo Paulo aos Romanos:
Data: 55 ou 56 d.C.

Roma foi fundada em 753 a.C. e era a maior cidade do mundo nos dias de Paulo, possuindo mais de um milhão de habitantes. Roma era famosa por suas imensas construções e por seu luxo, mas era também uma das cidades com mais pobreza e miséria, sendo a população constituída, em sua maioria, por escravos. Luxo e lixo coexistiam na metrópole. Havia grande número de cristãos na cidade e, ao que tudo indica, eles se reuniam em vários locais diferentes.
A Carta aos Romanos é considerada a mais influente do Apóstolo, sendo tida por muitos como a "primeira teologia sistemática da Igreja", uma vez que trata de modo bastante aprofundado e organizado os fundamentos da nossa fé. Não há dúvidas sobre a sua autoria, uma vez que o autor se identifica logo no início do texto, trazendo seu nome e evidenciando o seu ministério apostólico. Foi escrita quando Paulo se encontrava em Corinto, depois de ter passado por Éfeso (At 19:21-22; 20:1-3), enquanto recolhia ofertas dos irmãos da Acaia em favor dos cristãos necessitados de Jerusalém. Foi durante o inverno de 55 ou 56 d.C. (há quem sugira algo entre 57 e 58 d.C.) que Paulo produziu esse material.

A ocasião da redação de Romanos foi a seguinte: Paulo não era o fundador da Igreja de Roma e, tampouco, a conhecia, mas já havia conhecido cristãos de lá e ouvido falar muito dela, desejando ardentemente, portanto, vislumbrá-la pessoalmente - como ele não tinha ensinado pessoalmente naquela igreja, não sabendo das suas dificuldades e conhecimentos, decidiu sistematizar a teologia cristã na sua carta. Para concretizar o sonho de conhecer Roma, Paulo escreveu sua carta aos romanos, como forma de preparar a igreja para a visita que pretendia fazer depois de partir de Corinto para Jerusalém, onde deixaria uma oferta para a igreja de lá. Depois de Roma, o Apóstolo desejava rumar para a Espanha, com o objetivo de iniciar seu evangelismo por lá, uma vez que muitas das principais cidades do oriente do Mediterrâneo já tinham igrejas estratégicas - como o apóstolo foi preso em Jerusalém, seu projeto fora alterado. Já Paulo não conseguiu realizar seu desejo, provavelmente foi Febe, da igreja de Cencréia, quem levou a carta aos cristãos romanos.

A origem da igreja de Roma: não está claro como a igreja começou em Roma, mas imagina-se, sendo uma igreja já bem estruturada nos tempos de Paulo, que ela tenha se iniciado logo após o Pentecostes, com judeus de Roma convertidos com a pregação de Pedro em Jerusalém. Com a expulsão dos judeus de Roma entre 49 e 50 d.C., as congregações da Cidade passaram para o controle de cristãos gentios - muitos dos cristãos da igreja de Roma que Paulo conheceu e citou em Romanos 16, podem ter pertencido a esse grupo de judeus expulsos, o que certamente é o caso de Priscila e Áquila. Alguns questionam a autenticidade de Romanos 16 por causa dessa fartura de nomes, já que Paulo não conhecia tal igreja pessoalmente, mas é fácil de entender o seu esforço em evidenciar seus contatos com alguns cristãos de lá, como forma de criar uma ponte de relacionamento mais íntimo com as congregações romanas, gerando, com isso, um ambiente mais saudável para a sua chegada.
- Primeira Epístola do Apóstolo Paulo aos Coríntios:
Data: 55 d.C.

Corinto era a cidade grega mais importante dos tempos de Paulo, sendo um riquíssimo centro comercial localizado entre os mares Egeu e Adriático. Os navios que quisessem evitar a perigosa viagem contornando a parte meridional da península grega eram rebocados pelo istmo onde se encontrava essa cidade portuária - ela possuía dois portos. Além do seu poderio econômico, Corinto era um reconhecido centro religioso e cultural do Império Romano, com um teatro para vinte mil espectadores e jogos atléticos, os Jogos Ístmicos, que só perdiam para as Olimpíadas; também possuía, além doutros, um grande templo para Afrodite, posicionado no topo de um promontório de 547 metros de altura e detentor de mil prostitutas sagradas.

Corinto era formada por gregos, romanos e orientais, totalizando, nos dias de Paulo, uma população de cerca de 700.000 habitantes, com 2/3 de escravos nesse total. A imoralidade era a regra em Corinto, tanto que a expressão "agir como um coríntio" significava algo como "agir de modo promíscuo", perverso, imoral - "praticar relações sexuais ilícitas". Além disso, o consumo de bebidas alcóolicas era altíssimo.

A Igreja em Corinto: Corinto era uma grande cidade grega, mas mesmo que a cultura grega a influenciasse profundamente, essa cidade não produziu nenhum grande filósofo. Sua fama residia mais na imoralidade, recebendo a visita de homens de todos os lugares que desejavam gastar dinheiro com sexo. Erguer uma igreja numa cidade assim, portanto, foi um imenso desafio para Paulo, mas mesmo assim ele o fez, isso durante a sua Segunda Viagem Missionária, por volta de 50 d.C., quando, perseguido na Macedônia, teve que fugir para Atenas e, de lá, orientar-se para Corinto. Nessa cidade, enquanto formava as bases da igreja local, primeiramente debatendo com os judeus da sinagoga, sobreviveu construindo tendas com Priscila e Áquila. Silas e Timóteo se juntaram a ele, levando-lhe um presente de Filipos (2 Co 11:8-9 e Filipenses 4:15) e, assim, dando suporte para Paulo dedicar todas as suas forças na expansão do Evangelho. Ali 1 e 2 Tessalonicenses foram escritas. Aos poucos o ministério paulino em Corinto foi transferido da sinagoga para a casa de Tício Justo, por causa da oposição e da conversão de Crispo, líder da sinagoga.

A ocasião da carta: Paulo esteve ensinando a Palavra em Corinto durante 18 meses, em 51 e 52 d.C. Quando Paulo partiu, Apolo foi de Éfeso para Corinto com o objetivo de ministrar naquela igreja. Nos tempos nos quais o Apóstolo pregava em Éfeso, isso já durante a sua Terceira Viagem Missionária, foi incomodado com os relatos feitos pela casa de Cloé sobre as disputas que ocorriam na igreja de Corinto - a igreja enviou-lhe três homens que provavelmente carregavam uma carta que requeria de Paulo o julgamento para certas questões incômodas. Foi assim que o Apóstolo escreveu a Primeira Carta aos Coríntios, incentivado pelos problemas locais e intimado a responder sobre as polêmicas que ocorriam na igreja - é provável que esses homens tenham retornado para sua cidade já com a resposta de Paulo pronta. É interessante notar que Paulo já havia escrito uma carta para os coríntios antes dessa, como fica claro em 5:9. Como a redação de 1 Coríntios ocorreu pelos dias nos quais Paulo planejava sair de Éfeso (16:5-8), é provável que a sua redação tenha se dado em 56 d.C. Alguns estudiosos falam de 55 d.C. e outros, ainda, de 54 d.C.

Paulo realmente foi o redator dessa carta? A autoria de Paulo é quase universalmente aceita, começando pela declaração da autoria paulina feita por Clemente de Alexandria já em 95 d.C., quando este também escreveu à igreja de Corinto, citando a redação do Apóstolo. Evidências manuscritas do Século II não deixam dúvidas sobre a integridade do texto como um todo.

- A Segunda Epístola do Apóstolo Paulo aos Coríntios:
Data: 56 d.C.

Desde a Primeira Carta, a Igreja de Corinto vem sendo abalada por falsos mestres que contestam a autoridade de Paulo, acusando-o de ser inconstante, orgulhoso, de ter aparência e locução inexpressivas, de ser desonesto e sem qualificação para o apostolado. O Apóstolo, então, com o objetivo de lidar com essas dificuldades, mandou Tito para a cidade, aliviando-se com as novidades que seu enviado trouxe ao retornar, falando sobre o arrependimento de alguns dos cristãos que haviam se rebelado. Feliz e grato, Paulo decide escrever essa carta, agradecendo aos que mudaram e tentando lidar com os que ainda se opunham, fazendo-o através da defesa da sua conduta, caráter e chamado apostólico.

Paulo escreveu 1 Coríntios enquanto estava em Éfeso, esperando a visita de Timóteo a Corinto e o seu retorno. Timóteo, aparentemente, trouxe relatórios nada agradáveis de uma oposição crescente ao apostolado de Paulo e, por causa disso, o Apóstolo fez uma breve e dolorosa visita aos cristãos de lá (2 Co 2:1, 12:14, 13:1-2). Ao retornar para Éfeso, Paulo escreveu uma carta, conhecida como Carta Severa, para mandar que a igreja disciplinasse o líder dos opositores (2:1-11, 7:8), sendo levada para lá por Tito. Ansioso para saber o resultado, Paulo foi para a cidade portuária de Trôade e depois para a Macedônia para encontrar-se com Tito na volta da sua viagem (2:12-13, 7:5-16), aliviando-se ao saber da mudança de posição de muitos daqueles cristãos - liderados por um grupo de judaizantes, porém, uma minoria mantinha-se opositora. Foi na Macedônia, provavelmente em Filipos, que Paulo escreveu 2 Coríntios, enviando-a para Corinto pelas mãos de Tito e um outro irmão (8:16-24) - isso ocorre no final de 56 d.C., antecedendo a sua segunda viagem para Corinto (12:14,13:1-2; At 20:1-3), onde escreveu sua carta aos Romanos.

Autoria: 2 Coríntios possui vários detalhes pessoais e autobiográficos da vida de Paulo (4:8-18; 11:22-23).  Em 1:1 ele se declara o autor dessa obra. O grande problema de 2 Coríntios não reside na autoria, mas na constituição da carta que, pelas bruscas mudanças de humor do autor, parece ter sido montada com base numa série de cartas e trechos escritos por Paulo ao longo de um determinado período de tempo, o que não possui nenhuma base sólida:

- Não há nenhuma evidência nos manuscritos de que 2 Coríntios tenha sido formulada de cartas menores.
- Paulo pode ter demorado mais tempo para escrevê-la, o que explica bem as mudanças de humor repentina, já que há um intervalo de tempo razoável entre um momento de redação e outro.
- É fácil de entender o súbito alívio demonstrado por Paulo quando, depois de demonstrar imensa tristeza pelo comportamento dos cristãos revoltosos, se lembra daqueles que se arrependeram e estão firmes. O contexto vivido por Paulo nesse momento, como o histórico da carta revela, é bastante difícil e confuso, aspectos que o autor deixa evidentes em sua redação (ele mesmo está perturbado).

- A Epístola do Apóstolo Paulo aos Gálatas:
Data: 49 ou 55 d.C.

O termo "gálatas" possui um sentido etnográfico e político, referindo-se à parte central da Ásia Menor, onde tribos celtas se assentaram após os conflitos com os romanos e macedônios. Em 189 a.C. a Galácia ficou sob o domínio romano, tornando-se uma província romana em 25 a.C. Várias das cidades incluídas na província romana da Galácia originalmente não pertenciam à região, como Pisídia, Antioquia, Icônio, Listra e Derbe.

Paulo escreveu essa carta como uma resposta aos judaizantes, que estavam persuadindo os cristãos da Galácia. Eles pregavam que as obras eram necessárias para a salvação, que o evangelho de Paulo não era correto e que ele não era um verdadeiro apóstolo. O Apóstolo foi enérgico em sua defesa, afirmando a salvação pela Graça e a santificação pelo Espírito Santo, não pelo cumprimento da Lei.

Há duas teorias sobre a datação de Gálatas:
A Teoria dos Gálatas do Norte assegura que Paulo estava falando da Galácia num sentido mais restrito e anterior. Nesse caso, as igrejas da Galácia estavam ao norte das cidades que Paulo visitou em sua Primeira Viagem Missionária. O Apóstolo visitou a Galácia etnográfica - a região menor do Norte - pela primeira vez em sua Segunda Viagem Missionária, provavelmente quanto rumava para Trôade, em Atos 16:6. Foi na Terceira Viagem Missionária que Paulo revisitou as igrejas gálatas que havia estabelecido (At 18:23), tendo escrito essa epístola em Éfeso (53-56 d.C.) ou na Macedônia (56 d.C.).

A Teoria dos Gálatas do Sul, por outro lado, afirma que Paulo se refere à Galácia um sentido político mais amplo, como uma província romana. Com base nisso, entendemos que as igrejas que Paulo tinha em mente quando escreveu essa carta estavam nas cidades que ele evangelizou durante a sua Primeira Viagem Missionária, feita com Barnabé (At 13:13-14:23). Isso teria se dado pouco antes da reunião em Jerusalém, de At 15, sugerindo, portanto, que a visita à Jerusalém de Gálatas 2:1-10 tenha sido a visita de socorro à fome evidenciada em At 11:27-30. Considerando esses fatores, podemos entender que tal carta tenha sido escrita, provavelmente, em Antioquia da Síria, no ano de 49 d.C. - isso a coloca como a carta mais antiga de Paulo.

Quem é o autor de Gálatas? A autoria paulina é indiscutível, evidente desde o primeiro versículo da carta, sendo tal procedência reconhecida até pelos acadêmicos mais céticos. Fica claro que Paulo usou um escriba para redigir o material até antes de 6:11, quando ele tomou a pena em mãos, o que nenhuma dificuldade traz sobre a sua autoria original.

- A Epístola do Apóstolo Paulo aos Efésios:
Data: 61 d.C.

No final da sua Segunda Viagem Missionária, Paulo visitou Éfeso, onde deixou Priscila e Áquila (At 18:18-21). Essa era um cidade estratégica, o centro comercial da Ásia Menor e detentora de grande prestígio religioso, já que possuía um magnífico Templo de Diana, ou Artêmis, que era considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Tanto o exercício da magia quanto o desenvolvimento econômico da cidade dependiam, em grande parte, desse templo.

Por cerca de três anos Paulo permaneceu em Éfeso, isso durante a sua Terceira Viagem Missionária (At 18:23-19:41), tempo no qual o Evangelho se espalhou por toda a província da Ásia. Como o ministério de Paulo ali começou a afetar o mercado de objetos religiosos e mágicos relacionados ao paganismo, muitos opositores começaram a perseguí-lo, forçando-o a ir para a Macedônia, reencontrando os anciãos dali quando rumava para Jerusalém (At 20:17-38). Efésios é considerada uma das Cartas do Cárcere, tenho sido escrita por Paulo durante o seu Primeiro Cárcere Romano, em 60-62 d.C.

A formatação de Efésios a caracteriza como uma carta em forma de encíclica, já que o documento parece não tratar dos problemas de uma igreja específica, é marcado por uma ausência de controvérsia e não possui um caráter pessoal, uma vez que Paulo não cita nomes pessoais nela. Fica claro que seu objetivo era transmitir aspectos da doutrina cristã num breve tratado feito para circular pelas igrejas, tendo sido enviado primeiramente para Éfeso, por meio de Tíquico, e tudo indica que é a mesma carta referida como "a dos de Laodicéia", em Cl 4:16 - até porque os melhores manuscritos omitem as palavras "em Éfeso", de 1:1Efésios é considerada uma verdadeira obra-prima.

Autoria: não há ausência total de informações pessoais nessa carta, já que nela é duas vezes afirmado que o apóstolo Paulo é o seu autor (1:1; 3:1), que levanta três vezes o fato de estar preso (3:1; 4:1; 6:20).

- A Epístola do Apóstolo Paulo aos Filipenses:
Data: 61 d.C.

Em 356 a.C., o rei Filipe, da Macedônia, pai de Alexandre Magno, tomou a cidade que renomeou como Filipos, expandindo-a. Em 168 a.C., Filipos foi tomada pelos romanos e, em 42 a.C., ocorreu fora da cidade uma famosa batalha, na qual as forças de Brutos e Cássio foram derrotadas pelos exércitos de Antônio e Otaviano. Otaviano, então, transformou Filipos em uma colônia romana e num posto militar - uma vez que a cidade era militar e não comercial, nela não habitavam muitos judeus e, portanto, quando Paulo chegou na cidade não havia uma sinagoga por onde começar a igreja.

Paulo foi para Filipos em sua Segunda Viagem Missionária e lá abriu os olhos de Lídia e outros para Cristo, sendo, juntamente com Silas, espancado e preso. Na prisão, o Apóstolo apresentou Jesus para o carcereiro, que se converteu. Como os magistrados da cidade espancaram Paulo, cidadão romano, se colocaram numa situação perigosa diante do Império (At 16:37-40), constrangimento esse que deve ter evitado retaliações posteriores contra os cristãos de Filipos. A igreja dessa cidade romana foi a primeira que o Apóstolo estabeleceu na Europa. Paulo visitou os filipenses novamente em sua Terceira Viagem Missionária.

A relação entre Paulo e essa igreja sempre foi intima e cordial - a Igreja de Filipos ajudou financeiramente o Apóstolo por duas vezes antes de a epístola ser escrita e, ao saber da prisão de Paulo em Roma, enviou-o Epafrodito com uma terceira oferta. Filipenses é a carta de agradecimento por essa oferta, sendo considerada a epístola mais pessoal do Apóstolo a uma igreja. Durante sua prisão, Paulo adoeceu severamente e quase morreu, mas conseguiu recuperar-se e enviar Epafrodito de volta para Filipos com esta carta. Apesar do tom amistoso, a carta evidencia alguns problemas que aquela igreja enfrentava, como rivalidades e ambições pessoais (2:3-4 e 4:2), o ensino dos judaizantes (3:1-3), o perfeccionismo (3:12-14) e a influência dos libertinos antinomianos (3:18-19).

Como Paulo menciona a guarda pretoriana (1:13 e 4:22), além de deixar claro o seu julgamento iminente perante César (1:20), sabemos que a redação de Filipenses se deu no cárcere romano pouco tempo antes da sua morte, em 62 d.C.

- A Epístola do Apóstolo Paulo aos Colossenses:
Data: 61 d.C.

Colossos era uma cidade pouco importante nos tempos de Paulo, situada cem milhas à leste de Éfeso, na região das Sete Igrejas da Ásia verificadas em Apocalipse 1-3. Essa cidade se localizava na fértil região do vale Lico, tendo sido, anteriormente, um próspero centro comercial, famoso pela lã negra que produzia - nos tempos de Paulo, porém, cidades como Laodicéia e Hierápolis haviam eclipsado Colossos.

É possível que Paulo tenha levado o Evangelho para Colossos durante seu ministério em Éfeso, mas tudo indica que ele nunca chegou a visitar a igreja dessa cidade, cujo fundador é Epafras que, por sua vez, provavelmente é fruto do ministério de Paulo com os efésios (1:4-8, 2:1; Atos 19:10 e 20:31). Posteriormente Epafras visitou Paulo em Roma, levando-lhe donativos ofertados pela Igreja de Colossos (4:12-13 e Fm 23). Colossenses, Filemom e Efésios foram escritos, provavelmente, na mesma época, durante o Primeiro Encarceramento de Paulo em Roma, até porque, se considerarmos os temas e nomes das pessoas, essas cartas apresentam as mesmas circunstâncias (Cl 4:9-17 e Fm 2, 10, 23-24). As evidências combinadas apresentadas nos tópicos de Colossenses, Filipenses e Efésios, sugerem que todas tenham sido escritas durante o Cárcere Romano - Colossenses chegou até seu destino pelas mãos de Tíquico e do escravo convertido, Onésimo (4:7-9; Ef 6:21; Fm 10-12). Isso coloca a carta entre 60 e 61 d.C.

Quando Epafras visitou Paulo no Cárcere, apresentou-lhe um relatório do andamento da Igreja de Colossos, apontando o ministério nela desenvolvido como proveitoso. O Apóstolo, animado com o que ouvira, decidiu escrever essa carta, que também objetivava proteger os cristãos locais de uma crescente heresia, que ameaçava aquela igreja gentílica. Essa ameaça parecia combinar elementos de especulação grega, legalismo judaico e misticismo oriental (2:4, 8-23).

Autoria: há consistente e antigo testemunho externo da autoria paulina, assim como boa evidência interna. A epístola reivindica a autoria de Paulo (1:1, 23 e 4:18), além de evidenciar paralelos estreitos com Filemom e Efésios. Ainda assim, há oposição contra tal alegação: afirma-se que há um vocabulário diferente nessa carta, que traz cinquenta e cinco palavras gregas que não aparecem nas outras epístolas paulinas. Ora, Paulo tinha extenso vocabulário e, ao enfrentar uma heresia diferenciada, que fundia elementos de diversas culturas, teve que fazer uso de palavras incomuns - essa singularidade de Colossenses, portanto, é explicada pelo fato de a igreja estar sofrendo com uma heresia singular.

Alguns opositores, ainda, alegam que a carta foi escrita muito tardiamente e, portanto, não por Paulo, tomando como bases a sua elevada cristologia, equiparável à do Evangelho de João (1:15-23 e Jo 1:1-18), e a suposta luta contra o gnosticismo, apresentada no capítulo 2, mas não há razão para se deduzir que Paulo não tivesse consciência da obra de Cristo como Criador, principalmente se tomarmos textos como o de Filipenses 2:5-11, e todos os paralelos que podemos traçar entre o capítulo 2 com o pensamento gnóstico nos mostram nada além do enfrentamento de um tipo primitivo de gnosticismo.

- A Primeira Epístola do Apóstolo Paulo aos Tessalonicenses:
Data: 51 d.C.

Nos dias de Paulo, Tessalônica era a capital da província romana da Macedônia. A cidade possuía um importante porto e estava localizada na Via Ignatia, a principal estrada de Roma para o leste, de onde se via o Monte Olimpo. Em 315 a.C., essa cidade foi expandida e fortalecida por Cassandro, dando-a o nome de sua esposa, meia-irmã de Alexande, o Grande. A Macedônia foi conquistada pelos romanos em 168 a.C. e transformada em província cerca de 22 anos depois, tendo Tessalônica como capital. Sob o reinado de Augusto, essa cidade tornou-se uma "cidade livre". Tendo uma localização privilegiada e grande prosperidade comercial, no primeiro século essa cidade detinha, possivelmente, algo próximo de 200.000 habitantes. Atualmente encontra-se pelo nome de "Salônica".

Por ser uma cidade comercial, havia muitos judeus na Tessalônica do Primeiro Século, cujo monoteísmo ético atraiu muitos gentios. Esse tipo de prosélito, vindo do paganismo grego, discerniu rapidamente a pregação de Paulo na sinagoga, durante a sua Segunda Viagem Missionária (At 17:10). Enciumados com o êxito de Paulo, os judeus da cidade se organizaram para opor-se aos missionários cristãos, mas não encontraram Paulo ou Silas, arrastaram Jasom, hospedeiro dos missionários, perante os oficiais, acusando-o de abrigar traidores de Roma e, assim, promovendo a assinatura de um acordo para garantir a saída de Paulo e Silas de Tessalônica. Os missionários partiram, então, para Beréia, se retirando de lá quando os judeus tessalonicenses instigaram tumulto naquela cidade. De Beréia, Paulo foi para Atenas, deixando ordens para Silas e Timóteo se juntarem a ele naquela cidade (At 17:11-16).

Alguns sugerem que Paulo tenha ficado em Tessalônica por aproximadamente um mês, mas outros apontam para uma estada mais demorada, visto que Paulo, enquanto estava nessa cidade, recebeu duas ofertas dos cristãos filipenses (Filipos estava a 148 km de Tessalônica); a evidência sugere que a maioria dos cristãos tessalonicenses tenha migrado do paganismo grego, o que exige um ministério mais demorado, isso após o trabalho inicial de Paulo com os judeus e gentios prosélitos; o Apóstolo trabalhou montando tendas enquanto estava lá, consumindo parte do seu tempo. Depois do encontro de Paulo com Silas e Timóteo em Atenas (3:1-2), Timóteo foi para Tessalônica e Silas para Filipos. Os auxiliares do Apóstolo mais tarde se juntaram a ele em Corinto (At 18:5; 1 Ts 1:1) e foi nessa ocasião que Paulo escreveu sua carta em resposta ao bom relatório de Timóteo. Isso aconteceu em 51 d.C.

Autoria: até o Século Dezenove, quase ninguém questionava a autoria paulina dessa epístola, quando alguns críticos radicais começaram a levantar questões quando a autoria com base na escassez de conteúdo doutrinário, objeção que se invalida pelos seguintes motivos: a proporção de ensinamento doutrinário de Paulo varia bastante e 4:13-5:11 apresenta um dos fundamentos mais utilizados para o estudo cristão da escatologia. Como Paulo já havia firmado os cristãos de Tessalônica na doutrina cristã, não havia a necessidade de abordar diversos temas doutrinários.

- A Segunda Epístola do Apóstolo Paulo aos Tessalonicenses:
Data: 51 d.C.
Essa epístola foi, provavelmente, escrita apenas alguns meses depois da Primeira, enquanto Paulo ainda estava em Corinto com Silas e Timóteo (1:1 e At 18:5). O portador da Primeira Epístola pode ter feito uma atualização dos novos desenvolvimentos da igreja a Paulo, estimulando-o a escrever uma segunda carta. Os cristãos daquela igreja estavam sofrendo perseguições e um falso ensinamento sobre a o Dia do Senhor levou muito a abandonarem seus empregos. O problema do ócio, registrado em 1 Ts 4:11-12, se agravou (3:6-15). Nesses dias, Paulo começava a perceber a oposição que enfrentaria em Corinto.

Autoria: há mais oposição sobre a autoria paulina em 2 Tessalonicenses do que para a 1 Ts. Muitos acadêmicos a consideram produto confeccionado por uma pessoa desconhecida entre 5 e 50 anos depois da morte de Paulo, mas há fortes considerações sobre a mesma autoria para as duas cartas: as grandes similaridades entre as cartas são explicadas pela mesma autoria, o mesmo público alvo e a diferença de poucos meses entre a redação de uma e a redação da outra. O vocabulário, o estilo e o conteúdo doutrinário, além das reivindicações diretas de autoria paulina (1:1 e 3:17), não deixam muitas dúvidas sobre a questão.
Mapa das Sociedades Bíblicas Unidas, 2002, encontrado na Bíblia de Estudo Plenitude, SBB, 2002
- As Duas Epístolas do Apóstolo Paulo a Timóteo e a Epístola de Paulo para Tito:
Datas: 63-66, 67 e 63.

Na ordem do Novo Testamento cristão, essa é a primeira das Epístolas Pastorais, nas quais Paulo orienta seus companheiros mais íntimos. Essas epístolas se contextualizam na libertação do Apóstolo do seu Primeiro Cárcere Romano, na continuação dos seus esforços evangelísticos e na sua Segunda Prisão Romana. Conforme relatado em Filipenses 1:19, 25-26 e 2:24, Paulo se via livre do seu primeiro cárcere e, como prometido aos filipenses, assim que liberto ele enviou Timóteo a Filipos para relatar a boa-nova - o próprio Apóstolo rumou para Éfeso e para outras igrejas da Ásia, como, sugere-se, Colossos.

Quando Timóteo se juntou novamente a Paulo, em Éfeso, o Apóstolo o instruiu a ficar nessa cidade, enquanto ele viajaria para a Macedônia (1:3). Percebendo que demoraria na Macedônia, Paulo escreveu 1 Timóteo*, possivelmente em Filipos (3:14-15). Depois de te se encontrado com Timóteo, em Éfeso, ele viajou para Creta onde, depois de um período de trabalho, deixou Tito como responsável pela igreja local (Tt 1:5). Em Corinto, o Apóstolo decidiu escrever uma epístola a Tito, já que Zenas e Apolo estavam por fazer uma viagem que passaria pro Creta (Tt 3:13) - ele instruiu Tito a se juntar a ele em Nicópolis depois da chegada daquele que o ocuparia o seu lugar em Creta, Ártemas ou Tíquico (Tt 3:12).

* O Apóstolo escreveu 1 Timóteo em 62 ou 63 d.C., estando na Macedônia, enquanto Timóteo era seu representante em Éfeso e, possivelmente, noutras igrejas da Ásia, função na qual ele deveria orientar novos presbíteros, enfrentar heresias e supervisionar a vida nas igrejas.

Segundo a tradição da Igreja, Paulo realmente foi para a Espanha, conforme planejava quando escreveu a Epístola aos Romanos. Caso tenha realmente ido, é provável que tenha partido com Tito e atingido aquela província ocidental depois de passar o inverno em Nicópolis. Paulo pode ter estado na Espanha de 64 a 66 d.C., retornando para a Grécia e a Ásia - Corinto, Mileto e Trôade -, tendo sido preso provavelmente em Trôade, onde deixou para trás seus preciosos livros e pergaminhos (2 Tm 4:13).

Nesse momento, o cristianismo já era considerado ilegal no Império, proporcionando as melhores condições para que os inimigos de Paulo o acusassem com sucesso. Preso em 67 d.C., o Apóstolo escreveu 2 Timóteo, isso depois de sua defesa diante da Corte Imperial (2 Tm 1:8, 17, 2:6, 4:16-17), ocasião na qual, mesmo sem ter sido apoiado por ninguém, fora inocentado - apesar disso, o Apóstolo prosseguiu sem esperanças, vislumbrando sua execução.  No Primeiro Cárcere, Paulo viveu algo como uma "prisão domiciliar", na qual recebia visitas livremente, mas agora, considerado um "malfeitor", se encontrava numa gelada masmorra romana.Temendo a morte, ele rogou que Timóteo fosse visitá-lo o mais rápido possível. Paulo, segundo a tradição, foi decapitado no Oeste de Roma, na Via Óstia.

Autoria: os Pais Apostólicos, como Policarpo e Clemente de Roma, citam as cartas de Paulo a Timóteo e Tito como sendo de autoria paulina - Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e o Cânon Muratoriano também apontam essas cartas como sendo de Paulo. Tais epístolas declaram abertamente que saíram da mente e/ou do punho de Paulo (1 Tm 1:1; 2 Tm 1:1 e Tt 1:1). Alguns afirmam que esses documentos não passam de falsificações piedosas tardias, mas tal alegação não se sustenta pelos seguintes motivos:

- Os escritos pseudonímicos não eram aceitos nem por Paulo (2 Ts 2:2 e 3:17) e nem pela Igreja Primitiva, que era muito sensível para discernir falsificações.
- A consideração "piedosa" é inadequada, pois os cristãos primitivos consideravam vil qualquer fraude ou falsificação, assim como acontece hoje.
- Há diversos nomes e fatos pessoais descritos nas Epístolas Pastorais, tornando improvável que as mesmas tenham sido falsificadas, já que um falsificador normalmente preferiria ficar na obscuridade. Se fosse um admirador de Paulo, o fraudulento escritor provavelmente não escreveria passagens como a de 1 Tm 1:13-15.
- Os ensinamentos e os dados biográficos conferem com o estilo, o pensamento e a vivência de Paulo (1 Tm 1:12-17, 2:7; 2 Tm 1:8-12, 4:9-22; Tt 1:5, 3:12-13).
- Qual seria a serventia dessas cartas para um falsificador?
- Existem muitos elementos pessoais e as refutações doutrinárias não são compatíveis com o gnosticismo do Segundo Século.
- O estilo dos escritos posteriores, pós-apostólicos ou apócrifos, diferem bastante dessas três cartas.
- As diferenças linguísticas entre as Epístolas Pastorais e as demais cartas de Paulo podem ser explicadas pelo uso de um secretário pessoal, possivelmente Lucas, a incorporação de material anterior, a aspecto pessoal das cartas e seus assuntos singulares.
- A organização relativamente avançada das igrejas apresentadas nas Epístolas Pastorais pode ser explicada pela incorporação pela Igreja, desde os primórdios, de aspectos estruturais do judaísmo e do sistema das sinagogas. Ainda assim, a estrutura de liderança que essas cartas apresentam não é tão desenvolvida quanto a apresentada nos textos dos Pais da Igreja do final do Primeiro Século.
- A heresia que Paulo combateu nessas cartas é estritamente judaica, com traços de ceticismo e alguns vestígios de influência filosófica grega (1 Tm 1:7, 4:3; Tt 1:10, 143:9; 2 Tm 2:18).

2 Timóteo foi escrita em 67 d.C., na expectativa da visita de Timóteo, que estava em Éfeso. Este, para visitar Paulo em Roma, passaria por Trôade e pela Macedônia (2 Tm 4:13). Tíquico pode ter sido a pessoa que enviou essa carta para Timóteo.

Quem foi Timóteo? "Timóteo" é o nome mais citado por Paulo em suas saudações. Filho de um pai grego e de uma mãe judia, foi estimulado pela mãe e pela vó, Eunice e Lóide, a aprender as Escrituras judaicas. Fica evidente que ele se converteu com Paulo, quando este esteve em Listra, isso durante a Primeira Viagem Missionária. O Apóstolo tomou Timóteo como auxiliar e ele o acompanhou, depois de ordenado para o ministério, em Trôade, Beréia, Tessalônica e Corinto. Durante a Terceira Viagem Missionária, Timóteo representou Paulo em Éfeso, na Macedônia e em Corinto. Timóteo, ainda, acompanhou Paulo durante o Primeiro Cárcere, esteve na Igreja de Filipos, liderou a Igreja de Éfeso e, posteriormente, foi para Roma. Hebreus 13:23 afirma que ele foi preso e solto - Timóteo tinha saúde frágil, era tímido e jovem, mas era um mestre capaz e extremamente zeloso e confiável.

Creta, para onde Paulo mandou sua Carta a Tito, era uma ilha de 229 km de comprimento e 44 km de largura e, no Primeiro Século, tinha a fama de ser uma terra de pessoas mentirosas. Muitos judeus cretenses estavam em Jerusalém no dia do Pentecostes, quando Pedro pregou, levando, assim, o Evangelho aos seus conterrâneos. Após liberto da Primeira Prisão, Paulo esteve em Creta, expandindo a Palavra, e deixou para Tito a continuidade do trabalho - diante da imoralidade, era especialmente importante instruir Tito sobre a importância da retidão no viver cristão. Essa epístola foi escrita em torno de 63 d.C.

- A Epístola do Apóstolo Paulo a Filemom:
Data: 61 d.C.

Onésimo, escravo, aparentemente roubou alguma coisa e fugiu do seu senhor, Filemom. Ele foi de Colossos para Roma, onde poderia ocultar-se nas massas. Foi nessa fuga que Onésimo conheceu Paulo - existe a possibilidade de ele mesmo ter procurado pelo Apóstolo, pedindo ajuda, uma vez que é quase certo que ele já tinha ouvido alguma coisa sobre Paulo. Assim ele conheceu Jesus e, portanto, compreendeu que deveria retornar ao seu senhor, a quem havia lesado. Tíquico foi enviado por Paulo para acompanhar Onésimo no seu retorno a Colossos, para proteger o fugitivo dos caçadores de escravos. A Carta a Filemom serviu como uma recomendação de Paulo para que Filemom perdoasse Onésimo e o aceitasse como irmão em Cristo, remodelando as relações entre senhor e escravo. A lei romana permitia severas punições para escravos fugitivos e foi disso que Paulo tentou privar seu irmão na fé.

Filemom é uma das Epístolas do Cárcere, ao lado de Colossenses, Efésios e Filipenses. Paulo deve ter conhecido e convertido Filemom, residente de Colossos, em um encontro com ele em Éfeso, durante a Terceira Viagem Missionária. A casa de Filemom era grande o suficiente para receber reuniões cristãs, com os quais ele era bastante benevolente - seu filho, Arquipo, evidentemente tinha uma posição de liderança na igreja.

Autoria: até o Quarto Século, Filemom não teve autoria questionada e, quando teve, homens como Jerônimo e Crisóstomo a defenderam como proveniente de Paulo. A carta seguiu sem desafios grandes até o Século Dezenove, quando os críticos da autoria de Colossenses atacaram Filemom, já que há semelhanças entre ela e Colossenses - as conclusões posteriores, o consenso dos estudiosos, é de que essa carta é, realmente, de Paulo, e isso se sustenta por uma forte tradição externa, a ausência de motivos doutrinários para a sua falsificação e três referências diretas a Paulo na sua redação (1, 9 e 19).

Conclusão:
Um reconhecido e fervoroso judeu, inicialmente cético com relação ao cristianismo e só tendo a ganhar em trilhar o caminho fácil e próspero para ele preparado em sua comunidade judaica, acabou tendo uma experiência fortíssima com o próprio Cristo e, contra todas as expectativas, se convencendo e convertendo. Aquele que questionava Jesus e crescia em prestígio, acabou abrindo mão de tudo pelo Evangelho, arruinando a sua reputação com a comunidade mais privilegiada da qual fazia parte, para entrar no hall dos perseguidos e difamados. Paulo padeceu de torturas e fome, quase morreu várias vezes, teve que fugir em inúmeras ocasiões, teve seu ministério ameaçado por perseguições violentas, heresias e desconstruções doutrinárias promovidas maliciosamente pelos opositores. Foi preso por algumas vezes e morreu decapitado. Por Cristo ele se exauriu totalmente, indo, possivelmente, até a Espanha. O Apóstolo, materialmente falando, nada ganhou com seu chamado: apenas sofreu, isso física, psicologicamente e espiritualmente - mas nunca retrocedeu. Apenas uma experiência autêntica é capaz de explicar al reviravolta! Que a vida desse grandioso Apóstolo, que foi humilde até o fim, nos sirva de inspiração para nossa sobrevivência, como cristãos, nesse mundo hostil.
Pesquisas realizadas nas introduções das Cartas de Paulo dos seguintes documentos: A Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Charles C. Ryrie, Mundo Cristão, 2007; Bíblia de Estudo das Profecias, John C. Hagee, Atos, 2005; Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010.

Natanael Pedro Castoldi

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